Título: Vendas das farmácias crescem com expansão da classe C e genéricos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2008, Empresas, p. B6

As redes de farmácias e drogarias obtiveram crescimento expressivo de vendas nos quatro primeiros meses do ano e vivem um momento de concentração do mercado. O aumento do faturamento tem sido impulsionado pela elevação da renda, pela expansão da classe C e pelo avanço dos medicamentos genéricos.

O presidente da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Álvaro José Silveira, ressalta que, nos primeiros quatro meses deste ano, as vendas de genéricos cresceram 28,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. Nessa categoria, os produtos mais vendidos são medicamentos de uso contínuo, anticoncepcionais, antibióticos e protetores gástricos. No segmento dos produtos de marca e similares, a elevação foi de 23%. O levantamento foi encomendado à Fundação Instituto de Administração (FIA), da Universidade de São Paulo (USP). Os produtos que não são considerados medicamentos mas estão nas prateleiras das farmácias - principalmente cosméticos - também tiveram vendas 19,7% maiores no período.

Se esses crescimentos são expressivos, o desempenho da parceria com o governo federal, chamada "Aqui tem Farmácia Popular", pode ser considerado explosivo. O atendimento de clientes desse programa teve um salto de 722,8%, passando de 255.507 pessoas, no primeiro quadrimestre de 2007, para 2,1 milhões de clientes. As vendas dessa parceria também cresceram 481,3%, de R$ 8,2 milhões para R$ 47,68 milhões. Nesse programa, o governo federal subsidia até 90% dos custos de três tipos de medicamentos: anti-hipertensivos, anticoncepcionais e os prescritos para diabetes. O governo também controla, diretamente, cerca de 600 lojas do programa.

"O bom desempenho do varejo de medicamentos faz com que esse setor seja a bola da vez para os investidores. A concentração do mercado é inevitável", comenta Silveira. Ele é dono da rede Rosário, com 32 drogarias no Distrito Federal (DF). Seu filho, Álvaro Silveira Junior, é o diretor executivo da empresa e informa que vão abrir mais oito unidades no DF até dezembro. No fim deste ano vão empregar cerca de 700 pessoas.

O dono da Rosário revela que já recebeu duas sondagens de bancos que representam investidores. Em Brasília, recentemente, a tradicional rede de farmácias e drogarias Vison foi vendida pelo senador Adelmir Santana (DEM-DF) para a Drogasil, que também adquiriu a rede Lins, de Goiânia. Os mexicanos da Casa Saba também acabaram de comprar duas redes: Drogasmil e Farmalife.

Para o presidente da Abrafarma, os dois maiores problemas do setor são a alta informalidade (cerca de 30% do segmento) e a falta de regulação uniforme. As regras de controle da atividade estão espalhadas nos três níveis da federação, o que, na opinião de Silveira Junior, dificulta o desenvolvimento de um modelo de negócios.

Na quarta-feira, a mesa da Câmara retirou da pauta de votações o substitutivo do deputado Ivan Valente (PSOL-SP) que reforma a lei do comércio de medicamentos (nº 5.991 de 1973). O presidente da Abrafarma vai procurar os parlamentares para alertá-los sobre o retrocesso que seria, na sua opinião, a imposição de regime de concessão de serviço público para o setor. Silveira adverte que esse sistema, adotado em poucos países europeus, já está esgotado.

Outra dificuldade que o varejo de medicamentos enfrenta, segundo ele, é o custo da operação com cartões de crédito. "Pagamos, em média, 3% das vendas e isso significa custo maior que o do aluguel dos imóveis", diz.