Título: STF processará dois deputados
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2008, País, p. A4

Os deputados federais Neudo Campos (PP-RR) e Celso Russomano (PP-SP) passaram à condição de réus em novas ações penais que serão julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foro privilegiado a que têm direito os congressistas acusados de crimes comuns. Na sessão plenária de ontem, o STF recebeu as denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal em três dos 12 inquéritos em que o primeiro foi indiciado ­ juntamente com deputados estaduais e outros beneficiários - pela prática de peculato e formação de quadrilha, por ter comandado, quando era governador de Roraima (1995 e 2002), um esquema de inserção de falsos servidores públicos nas folhas de pagamento do Estado. O esquema foi desarticulado, em novembro de 2003, pela Operação Praga do Egito (ou Gafanhoto) da Polícia Federal. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o total de prejuízos ao erário foi de mais de R$ 230 milhões. Neudo Ramos já é réu, no STF, em outras seis ações penais. Endereço falso Já Celso Russomano ­ o se- gundo mais votado para a Câmara, em São Paulo, nas eleições do ano passado (mais de 570 mil votos) ­ vai ser processado por falsidade ideológica. Também por unanimidade, o STF acolheu a denúncia do MPF segundo a qual, em 2000, quando pretendia concorrer à prefeitura de Santo André (SP), alugou pelo período de 30 meses um apartamento no centro da cidade, a fim de cumprir a exigência legal de domicílio eleitoral no município. No entanto, como apurou a Justiça Eleitoral ­ que negou o registro do candidato - o atual parlamentar jamais ocupou o imóvel alugado, tendo apresentado documento público de conteúdo falso. Russomano já respondia a uma ação penal no STF, por crime contra o patrimônio. Acolhidas por unanimidade, as novas denúncias contra Neudo Campos e Celso Russomano foram relatadas, respectivamente, pelos ministros Cezar Peluso e Eros Grau. O deputado de Roraima, se vier a ser julgado, pode ser condenado a penas de reclusão de dois a 12 anos (peculato) e de um a três anos (formação de quadrilha). A pena para o crime de falsidade ideológica, no qual foi enquadrado o parlamentar paulista, por sua vez, é de reclusão de um a cinco anos. No encaminhamento do julgamento de ontem, o vice-procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deu ênfase especial às denúncias nos três inquéritos contra Neudo Campos. A Operação da PF de novembro de 2003 foi batizada de Gafanhotos devido à forma como os acusados ``devoravam'' as folhas de pagamento, com a inclusão de servidores fantasmas no rol de servidores estaduais, em "tabela especial de assessoria". Havia vários laranjas na lista de funcionários do Estado, em sua maioria pessoas humildes, enganadas com a promessa de receber ajuda financeira do governo. Elas assinavam procurações em nome dos reais beneficiários, sem receber nada ou apenas uma pequena parte dos vencimentos consignados em folha. Ainda conforme o MPF, o dinheiro ilícito era recebido por pessoas indicadas pelo ex-governador de Roraima ou por políticos a ele ligados.