Título: Para consultoria, país ainda está longe de alcançar o crescimento susten
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2008, Brasil, p. A2

Apesar dos bons ventos que movem a economia brasileira, Cláudio Porto, economista da consultoria Macroplan não parece muito otimista quanto às chances de o país alcançar a trajetória do crescimento sustentado no nível de 5% nos próximos sete anos. Ele não descarta a possibilidade de o Brasil sofrer uma redução do crescimento econômico ou mesmo virar uma "baleia encalhada" até 2014.

Porto desenha quatro cenários econômicos para o período 2008/2014, dos quais os mais prováveis são o do "crescimento inercial", que leva 50% de chance e o pessimista, da baleia, também conhecido como "volta ao atoleiro", com 25%. "Salto para o futuro", que consolida um quadro de desenvolvimento sustentável, e "travessia na turbulência", no qual a economia avança com barreiras, têm, a seu ver, 17% e 8% de probabilidades de vingar.

As projeções da Macroplan se basearam em pesquisa feita com dez especialistas da área do governo e do setor privado envolvendo, inclusive, executivos de empresas e economistas. Nelas ficou claro, segundo o economista, que o principal fator que pode travar o crescimento é a infra-estrutura logística, no curto prazo. Outros dois pontos que o governo Lula tem de enfrentar é a alta da inflação e a ameaça de apagão energético, além de fazer as reformas estruturais da Previdência e tributária para que haja um crescimento sustentado.

Os especialistas respaldam o pessimismo da consultoria. Segundo Porto, eles dizem que a propensão do governo de enfrentar esses problemas com medidas imediatas e duras é muita baixa. Para o economista, a explicação para o fato tem um viés político. "Um novo ciclo de reformas é algo que pode levar a riscos de desgaste, de perda de popularidade do presidente da República", afirma.

Para Porto, apesar do forte poder de comando do presidente Lula, o que está sendo feito em matéria de infra-estrutura não é suficiente para sustentar o ritmo atual de crescimento. "Até 2012 a situação de suprimento energético não é confortável, suporta risco." A médio prazo, ele aponta para a questão da qualificação de mão-de-obra. Também vê sinais de alguma valorização cambial e deterioração das contas externas. Outro fator de risco é a inflação. "O Brasil está começando a engargalar", alerta Porto.

No seu cenário mais provável, do crescimento inercial, o pano de fundo externo é dado por uma recessão leve nos Estados Unidos, combatida pelo Fed (BC americano) com queda dos juros, aperto fiscal e regulamentação do sistema bancário. As economias emergentes e da Europa se descolam da crise americana, o que mantém o mundo em expansão, permanecendo em alta expressiva os preços do petróleo e das commodities agrícolas e metálicas.

O Brasil se beneficia da demanda por suas commodities, que é mantida e impulsionada pela China. A expansão do gasto público, porém, contendo investimentos e aumentando impostos para equilibrar as contas federais, aliada à manutenção do consumo aquecido, da inflação subindo e do aumento do déficit em conta corrente, desemboca numa leve desaceleração da economia com aumento do desemprego. O PIB encolhe para taxas entre 4% e 4,5%.

Com 25% de possibilidade, o cenário da "baleia encalhada" é desenhado num contexto de aprofundamento da recessão americana motivada pelo colapso nos lucros financeiros, "crash" no mercado imobiliário, desvalorização do dólar e redução da confiança do consumidor. Tem início uma crise de confiança no mercado financeiro internacional devido à redução da liquidez e maior aversão ao risco nos mercados financeiros. Petróleo e commodities permanecem em alta e voláteis e o crescimento chinês cai, reduzindo a demanda pelas matérias primas brasileiras.

Em conseqüência, o Brasil reage à crise expandindo mais o gasto público. A política econômica começa a ser flexibilizada. O real desvaloriza e acentua as pressões inflacionárias combatidas com alta na taxa de juro e alguns controles do crédito. As contas externas se deterioram, levando à queima de reservas. Investimentos são adiados e a economia perde dinamismo. O PIB e a taxa de investimento exibem curvas cadentes, a relação dívida/PIB, o câmbio e a inflação se expandem. O risco Brasil volta a níveis de até 1.400 pontos base em 2014 e a economia brasileira volta ao atoleiro.