Título: Teixeira e Ayoub recusam convite do Senado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2008, Política, p. A9

A oposição reconhece que só uma CPI terá poderes suficientes para investigar realmente a venda da Varig para a VarigLog. Depois de quase novas horas de depoimentos da ex-diretora da Anac, Denise Abreu, o advogado e compadre do presidente Lula, Roberto Teixeira e o juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio, Luiz Roberto Ayoub, convidados, já avisaram que não vão comparecer à Comissão de Infra-Estrutura do Senado. "Ou fazemos uma CPI ou voltamos para casa", admitiu, resignado, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Demóstenes concorda que as últimas CPIs - apagão aéreo e cartões corporativos - não conseguiram desgastar o governo como imaginava a oposição. Mas constata que, em uma simples comissão, o espaço para aprofundar as investigações é limitado. "Não podemos convocar ninguém, não podemos quebrar sigilos. Além disso, com a força política de uma CPI, podemos contrapor o rolo compressor governista com obstruções de matérias importantes no plenário", justificou o senador.

Ele, porém, ainda acha cedo para iniciar a coleta de assinaturas e considera mais prudente encerrar todos os depoimentos previstos para a Comissão de Infra-Estrutura. "É importante para termos mais elementos para embasar o pedido de CPI, embora já tenhamos um fato mais do que determinado".

Mesmo com as recusas de Ayoub e Teixeira em comparecer à Comissão, os trabalhos no Senado prosseguem nesta semana. Para quarta-feira estão previstos os depoimentos dos sócios compradores da Varig - dentre eles Marco Antônio Audi, que contratou o advogado Roberto Teixeira, amigo e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para intermediar a venda da Varig para a Gol - e o ex-procurador da Fazenda Nacional, Manoel Felipe Rêgo Brandão.

Demóstenes acha que a oposição não errou no alvo ao concentrar os ataques à ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Aliados do próprio governo admitem que a situação de Roberto Teixeira, amigo de longa data do presidente Lula, é muito mais delicada, pois envolveria tráfico de influência de um compadre do presidente da República. "Mas a Dilma também tem muito o que se explicar, ela está tão enrolada nesse caso quanto o Roberto", disse Demóstenes.

Aliados do governo reconhecem que a relação entre Lula e o advogado Roberto Teixeira é problemática, mas não acreditam que o amigo do presidente será jogado aos leões. Lula e Teixeira têm uma longa relação de amizade - em momentos difíceis da vida do presidente, o advogado esteve presente para ajudá-lo, inclusive cedendo apartamento para o sindicalista morar em um período em que Lula não tinha para onde ir.

Se Roberto Teixeira pode trazer algum tipo de preocupação, o mesmo não ocorre diante das ameaças da oposição de criar uma CPI. Para assessores governistas, o instrumento de investigação parlamentar foi completamente desmoralizado pela oposição, que sucumbe à maioria governista e ainda concentra-se apenas na luta política, sem propor melhorias no sistema. "Nós superamos a crise do mensalão, que foi muito mais grave do que essa. Não há absolutamente nada a temer no atual momento", afirmou um petista.