Título: Brasil e países do Bric vão receber mais investimentos em cinco anos
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2008, Brasil, p. A2

O Brasil e os outros países do grupo dos Bric (Rússia, Índia e China) vão ganhar ainda mais espaço nos próximos cinco anos como destino do investimento das grandes empresas globais. Pesquisa da KPMG International com mais de 300 companhias de 15 países mostra que 14% dos entrevistados pretendem fazer "investimentos significativos" no país no período 2013/2014, mais que os 10% atuais. Com isso, o Brasil deverá passar da oitava para a sexta colocação. Segundo o estudo, a liderança ficará com a China, que ultrapassará os EUA, os líderes atuais: 24% das companhias pretendem investir pesadamente no país asiático em cinco anos, um forte salto em relação aos atuais 17%. Rússia e Índia deverão ocupar a terceira e a quarta posições, pela ordem.

Para Ericson Amaral, sócio-diretor da área de tributação internacional da KPMG, o crescimento mais forte nos últimos anos ajuda a explicar a perspectiva de aumento dos investimentos das grandes empresas globais no país. Ele nota que, de acordo com a pesquisa, o acesso a novos clientes é o principal fator que as companhias levam em conta para definir em que países investir seus recursos. "O Brasil tem um potencial de crescimento muito grande, que vem se realizando razoavelmente nos últimos anos. O mercado interno é um ativo dos mais significativos." Amaral lembra que o Brasil também se sai bem no segundo critério mais importante levado em conta pelas corporação ouvidas no estudo da KPMG: a estabilidade política.

O fato de o Brasil ter demorado mais tempo para buscar taxas de expansão mais fortes explica por que o país aparece atrás dos outros Bric na pequisa, avalia Amaral. Em 2007, a economia brasileira cresceu 5,4% e as previsões para este ano são de um avanço próximo de 5%. É um número forte em relação ao histórico recente do país, mas fraco, por exemplo, em comparação aos 9,8% previstos para a China em 2008 pela Economist Intelligente Unit (EIU).

Para Marienne Munhoz, também sócia da área de tributação internacional da KPMG, o país ainda tem muito a melhorar para atrair mais investimentos estrangeiros. Ela ressalta o nível elevado da carga tributária brasileira e complexidade do sistema de impostos. Segundo Marienne, seria muito importante para o país a aprovação da reforma tributária, principalmente de dispositivos de simplificação tributária.

Outro ponto delicado para o Brasil é a infra-estrutura, o quarto item mais importante na visão dos empresários ouvidos na pesquisa. "É importante que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) saiam do papel, e que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deslanchem", diz Marienne.

O estudo também mostra os setores que mais devem receber investimentos. No Brasil, ao contrário do que poderia se esperar, não são os setores ligados à produção de commodities que mais tendem a se beneficiar das inversões das empresas consultadas pela KPMG. O segmento de produtos industriais deve receber 25% dos investimentos no biênio 2013/2014, bem mais que os 13% atuais, enquanto o de manufaturas tende a aumentar a sua fatia de 11% para 20%. Os investimentos no setor de serviços para empresas devem crescer de 8% para 16% e o de serviços financeiros, de zero para 8%. Em compensação, as inversões no segmento de mineração e serviços públicos tendem a cair de 17% para 14%. "Isso aponta para uma perspectiva de diversificação da economia brasileira", diz Marienne.

Para Amaral, a pesquisa indica que as empresas já planejam as suas respostas para uma mudança do poder econômico global que está em curso, rumo a uma situação mais equilibrada, com três blocos: as Américas, a Europa e a região asiática do Pacífico.

Para fazer a pesquisa, a KPMG contratou a Lighthouse Research, que ouviu 311 estrategistas de investimentos de empresas de 15 países. Também foram consultados 10 gestores de fundos de participação em empresas (private equity) e de fundos soberanos.