Título: Eleições nos EUA podem atrasar Doha por três anos
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2008, Brasil, p. A4

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acredita que a Rodada Doha, negociada na Organização Mundial de Comércio (OMC), pode sofrer um atraso de "dois ou três anos" caso as discussões não sejam encerradas antes do início do processo eleitoral nos Estados Unidos. Amorim admitiu que o prazo é curto, mas acredita ser possível se chegar a um bom termo nas negociações.

Amorim ponderou que, independentemente da vitória do candidato democrata, Barack Obama, ou do republicano, John McCain, há uma demora natural, após uma mudança de governo, para que as novas equipes dirigentes tomem conhecimento das discussões e apresentem pontos-de-vista que não faziam parte da administração anterior.

"Eu acho prudente fazer todo o possível para acabar agora [a Rodada Doha], mas, se não for possível, não se fará. É preciso que haja uma noção de que é necessário um resultado equilibrado", frisou Amorim.

O chanceler considerou natural a cobrança do presidente americano, George W. Bush, que exigiu ontem, em entrevista na Inglaterra, maiores concessões, por parte dos países emergentes - Bush citou Brasil, Índia e China - em relação à redução de tarifas nas áreas de indústria e serviços. Para Bush, os países desenvolvidos já deram sua cota de concessão na área agrícola e não teriam recebido contrapartida na indústria e serviços.

"É natural que ele faça isso. Eu ficaria preocupado se ele parasse de cobrar totalmente, porque mostraria que ele está desinteressado", ressaltou Amorim, para quem a cobrança de Bush faz parte da negociação. "Já viu alguém entrar numa mesa de negociação dizendo que não deu nada e que o outro deu muito? Ele fez a pressãozinha dele e nós vamos fazer a nossa", acrescentou.

Mesmo sem responder diretamente ao presidente americano, Amorim mostrou um pouco da pressão brasileira e voltou a atacar a política de subsídios dos países desenvolvidos para os produtos agrícolas. Segundo o ministro, reduzir tarifas faz parte da negociação, enquanto os subsídios representam uma distorção.

"Os subsídios são uma excrescência dentro do comércio mundial, tanto que na área de manufaturas isso acabou. A distorção principal está do lado deles (países desenvolvidos), então eles têm que dar o exemplo", afirmou.

O ministro também confirmou que a diplomacia brasileira está atenta à escalada dos preços do petróleo e lembrou que, na última reunião do Sistema para Integração Centro-Americana, em El Salvador, no fim do mês passado, foi aprovado o pedido para que seja convocada uma Assembléia-Geral Extraordinária da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir o assunto.

"Podemos não conseguir, porque há muitos países produtores de petróleo que podem não estar interessados, mas os preços [do petróleo] obviamente preocupam, sobretudo pelo efeito que têm no processo produtivo, na inflação e no preço dos alimentos", disse o chanceler do Brasil.