Título: Governadores do NE se mobilizam pela energia eólica
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2008, Brasil, p. A6

No início de 2009 o Brasil irá realizar seu primeiro leilão de energia eólica. Ainda não há definição sobre quanta energia será negociada e com qual regularidade ocorrerão os leilões, mas o pontapé inicial foi anunciado ontem pelo ministro das Minas e Energia Edison Lobão, num encontro em Fortaleza que reuniu cinco governadores do Nordeste e dois vices, o presidente do Senado Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), vários deputados, empresários, ambientalistas e agentes financeiros. É a primeira vez que o lobby da energia eólica exibe tal força política.

Os presentes queriam uma sinalização mais vigorosa do governo federal de investir na energia produzida pelo vento, mas consideraram positiva a notícia do leilão. "O uso da energia eólica como fonte de energia complementar pouparia os estoques hídricos", defende Roberto Smith, presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). "O Nordeste têm absorvido muita energia e esta tem sido uma tendência crescente", continua Smith. "E cada vez mais, em função de requisitos ambientais, as hidrelétricas são construídas sem grandes reservatórios, que não aguentam tanto em regime de estiagem. Este é o X da questão, e é assim que o custo da energia eólica tem que ser pensado", prossegue.

O encontro aconteceu na sede do BNB, o maior financiador de energia eólica no país junto com a Sudene. Os investimentos do BNB no setor, no Nordeste, somam R$ 2,4 bilhões em projetos instalados, em andamento e em análise. Desse total, R$ 1, 040 bilhão é recurso do banco, R$ 970 milhões vêm do fundo de desenvolvimento do Nordeste e R$ 400 milhões são a parte dos próprios investidores. O BNDES também é um braço importante no estímulo à energia dos cataventos.

Na defesa da eólica marcaram presença os governadores Cid Gomes (PSB-CE), Jacques Wagner (PT-BA), Marcelo Déda (PT-SE), Eduardo Campos (PSB-PE) e Wellington Dias (PT-PI), todos mordidos pelo apelo verde desta energia que também sinaliza fortes investimentos em parques eólicos, na instalação das indústrias de equipamentos e em uma alternativa de desenvolvimento à região. "Uma reunião com este peso político para discutir energias renováveis no país nunca havia acontecido", registra Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace no Brasil "As intervenções que foram feitas pelos políticos foram muito bem articuladas, com questionamentos específicos e um entendimento claro do que significa este tipo de energia para o Nordeste", avalia. "Nossa leitura é que no ambiente econômico, social e político essa discussão já tem maturidade para que existam mais coisas sobre a mesa."

No discurso dos governadores, registra Furtado, há a intenção de buscar outro perfil para a região, migrando da posição de importadora de energia para a ponta oposta - e atraindo investimentos com seu invejável potencial eólico. Pelos dados do Atlas Eólico Nacional, o potencial brasileiro de energia pelos ventos é de 143 GW, sem considerar a instalação de parques marítimos. O Nordeste responderia por 75 GW, sendo 25 GW concentrados no Ceará.

Furtado avalia como "limitada" a participação do governo federal. A ausência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que havia confirmado presença, foi anotada, mas a observação do ambientalista vai além do protocolo. "Há muita lição de casa a ser feita", prossegue. Segundo ele, falta um marco regulatório claro que dê segurança aos investidores - providência que o Greenpeace tem articulado e terá novo round amanhã, em reunião com representantes da Câmara e do Senado. A estratégia, no entender de Furtado, é convencer o governo federal a garantir às energias renováveis acesso prioritário à rede e assegurar sua compra por preços que remunerem o produtor sem onerar o consumidor.

A leitura do governo federal, naturalmente, é outra. "Temos um marco regulatório", diverge Laura Porto, diretora do departamento de desenvolvimento energético do Ministério das Minas e Energia (MME). Ela se refere à legislação que regulamenta a comercialização de energia através de leilões e a que criou o programa de incentivo às energias renováveis, o Proinfa. Trata-se de uma iniciativa que procura estimular a produção de energia através de biomassa, de pequenas centrais elétricas e a partir dos ventos, mas que é tida como tímida pelos críticos. "O Proinfa inaugurou uma estratégia para esta fonte de energia", diz ela. "O leilão de eólica é a sinalização que o mercado está amadurecido e que o programa terá continuidade. Este era o nosso grande desafio."