Título: Petróleo é pressão a mais
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2011, Economia, p. 15

Com a instabilidade internacional, gasolina pode subir no Brasil, potencializando o risco inflacionário

O risco de permanência da escalada nos preços internacionais do petróleo ¿ alimentada pelas turbulências no mundo árabe ¿ é mais um fator inflacionário a ser analisado pelo Banco Central (BC). A poucos dias da reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom), a decisão do órgão sobre a taxa básica de juros já estava pressionada pela disparada de outros preços domésticos.

Até agora, a Petrobras vem descartando repassar os novos valores do barril de petróleo, que ultrapassaram a barreira de US$ 110 na Europa, às suas tabelas no país. Conforme política adotada pela empresa há oito anos, a diretoria reitera que só absorve oscilações de preços internacionais após uma ¿acomodação de patamares¿, incluindo aí o câmbio.

Analistas ouvidos pelo Correio confirmam essa inflexão da Petrobras nos casos de gasolina, diesel e gás, verificada em situações anteriores. A prática de segurar preços na mão inversa do cenário externo, tanto para cima quanto para baixo, foi melhor percebida em 2008 e 2009. ¿Por quase um ano, a Petrobras manteve os preços ao consumidor final até 20% mais altos que as cotações no mundo¿, lembra o economista Homero Gizzo, da LCA Consultores. Ele acrescenta que a estatal ganha hoje no mercado externo, como exportadora de petróleo.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, garantiu publicamente segunda-feira que os preços atuais nas bombas de gasolina e diesel serão mantidos, apesar das turbulências nos países produtores na África e no Oriente Médio nos últimos dias. ¿Não vamos repassar ao mercado brasileiro a volatilidade do preço internacional¿, declarou, lembrando que as cotações estão oscilando motivadas por especulações. Ele reconhece que essa tendência pode se arrastar por meses.

Nos quatro últimos pregões da Bolsa de Valores de São Paulo, as ações da Petrobras estiveram entre as maiores altas. Os papéis preferenciais (PN) e ordinários (ON) chegaram a R$ 28 e R$ 33, respectivamente, retornando ao melhor nível desde setembro de 2010.

Em Nova York, o contrato futuro do barril do petróleo tipo WTI para abril superou a casa dos US$ 100, pela primeira vez desde outubro de 2008. Em Londres, o petróleo tipo Brent já havia rompido o nível dos US$ 100 no fim de janeiro e agora já beira os US$ 112 por barril.

Apesar dessa resistência da estatal, especialistas lembram que outros produtos de refino vão acabar interferindo nos custos da indústria brasileira. Além disso, companhias aéreas estão sendo afetadas desde agosto pela variação do preços dos seus combustíveis mundo afora. Se o petróleo seguir em alta nos próximos dias, no mercado brasileiro eles tendem a ficar mais baratos do que nos Estados Unidos, que são influenciados mais rapidamente pelas variações externas. Diante desses sinais, a Petrobras só admite recorrer a importações para assegurar o abastecimento de gasolina, com crescente demanda em 2010.

Professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite diz que, se o preço alto do petróleo levar à redução do crescimento econômico mundial, as exportações brasileiras serão prejudicadas. ¿Mas isso também contribui para a redução da pressão inflacionária interna¿, pondera.