Título: BNP Paribas cria fundos com parcela no mercado externo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2008, EU & Investimentos, p. D3

Aproveitando a comemoração dos dez anos de Brasil, a BNP Paribas Asset Management está lançando seus três primeiros fundos de investimento com aplicações no exterior. Para o anúncio das carteiras - uma ligada à agricultura, outra a fundos hedge internacionais e a terceira, de ações latino-americanas - veio ao Brasil, na semana passada, o presidente mundial da BNP Paribas Investment Partners, Gilles Glicenstein. Foi a primeira visita do executivo ao país.

O primeiro fundo, o BNP Paribas Global Agro, é um multimercado com 20% dos recursos aplicados no exterior, no Parvest Agriculture, um fundo com sede em Luxemburgo que, como o nome indica, investe em ativos ligados à agricultura, incluindo desde os próprios produtos até seus derivativos e ações de empresas do setor. Outro é o Latam Ações, que aplicará em ações de empresas da América Latina seguindo a carteira do índice MSCI Latam, do Morgan Stanley. Hoje, o índice tem cerca de 60% de Brasil, 30% de México e 10% dos demais países. E o terceiro, o Inter Multi, aplicará os recursos no fundo Alternative Diversified, da Fauchier Partners, braço de hedge funds da BNP Investments, que compra cotas de diversos fundos hedge ao redor do mundo. O Inter Multi e o Latam terão aplicação mínima de R$ 1 milhão para poderem aplicar até 100% dos recursos no exterior e o Global Agro, de R$ 50 mil. As carteiras começam a captar nesta semana.

A estratégia de criar carteiras internacionais coincide com a visão de que ter uma perspectiva global será cada vez mais importante para os investidores, afirmou Glicenstein ao Valor. Como exemplo, ele cita os fundos de ações e renda fixa brasileiros lançados no Japão e na Coréia que, em menos de um ano, já contam com um patrimônio superior a US$ 1 bilhão em cada país. "O fundo de ações brasileiras no Japão é nosso maior fundo internacional naquele país", diz ele.

Hoje, a BNP Paribas é uma das maiores gestoras de recursos para estrangeiros no Brasil, com US$ 7,3 bilhões, dos quais US$ 4 bilhões em ações. O valor equivale quase à metade dos US$ 16 bilhões (R$ 26 bilhões) que a unidade brasileira do BNP gere, incluindo fundos e carteiras exclusivas. No total, a BNP Paribas Investment tem US$ 500 bilhões em ativos sob gestão ao redor do mundo. Desse total, US$ 45 bilhões estão em emergentes.

Além dos fundos para investidores brasileiros aplicarem no exterior, a gestora prepara uma carteira multimercados que será oferecida globalmente para estrangeiros aplicarem aqui, explica Glicenstein. "O fundo reproduzirá uma carteira que temos no Brasil, com aplicações nos vários mercados brasileiros, desde moedas, juros, até ações e derivativos", diz o executivo. A idéia é aproveitar o grande interesse dos investidores internacionais pelo país, diz Glicenstein.

Segundo ele, há muitos investidores que não querem aplicar em fundos regionais ou nos Brics (iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China), mas sim diretamente nos países. "Vemos um interesse grande de investidores de mercados emergentes, como Coréia e Oriente Médio, em aplicar em outros emergentes, como o Brasil", afirma Glicenstein, lembrando do sucesso dos fundos brasileiros na Coréia. "Os coreanos já costumavam aplicar em outros asiáticos, como China e Índia, e agora estão comprando Brasil", diz ele.

A explicação para esse interesse, acredita Glicenstein, é a cada vez maior profissionalização e globalização dos gestores nos emergentes e a busca pelos países com maior crescimento. Além disso, esses investidores conhecem o processo de desenvolvimento dos emergentes, pois passaram por situação semelhante em seus países e percebem as oportunidades, lembra.

A estrutura internacional do BNP Paribas é uma vantagem nesse processo de globalização dos investimentos emergentes, explica Glicenstein. Há um ano, o banco criou o BNP Paribas Investment Partners, que reúne 19 instituições ao redor do mundo. Há empresas em determinados países em que a BNP Asset tem participações minoritárias e outras em que há acordos operacionais de distribuição. Mas a estratégia é procurar especialização, seja em países, seja em mercados ou em determinados produtos de investimento, explica Glicenstein. "Em meados dos anos 1990, havia uma tendência das assets internacionais buscarem o crescimento agressivo, via aquisições, pois acreditava-se que apenas as grandes gestoras sobreviveriam", lembra o executivo.

O BNP, porém, preferiu ficar com parcerias em lugar das aquisições. "Concluímos que tamanho não era o mais importante em todos os mercados - talvez se você trabalhar com renda fixa, mas em ações ou renda variável, o diferencial é a performance", diz ele. Ao mesmo tempo, o mercado foi se especializando cada vez mais com fundos de crédito, ações e fundos hedge e os clientes passaram a buscar o melhor de cada categoria. "E nem sempre os melhores de cada estratégia estão na mesma instituição, pois é difícil ser global e especializado", lembra.

Segundo Glicenstein, o Brasil é uma das maiores operações locais do BNP Paribas no mundo. "O Brasil é relativamente pequeno em relação ao nosso total de ativos, mas é importante por seu potencial de crescimento de patrimônio e de receitas e pelo interesse de outros países por esse mercado", diz.