Título: Agricultor diz que alimentos vão subir, mas Mantega vê situação controlada
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Fonte: Valor Econômico, 18/06/2008, Brasil, p. A2

Guido Mantega, ministro da Fazenda: situação de preços está controlada A Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) alertou ontem que a forte alta dos preços agrícolas no primeiro trimestre do ano ainda não foi totalmente repassada aos consumidores. Além disso, avisou que o impacto da expressiva elevação dos custos da produção agropecuária, sobretudo dos fertilizantes, será sentido mais intensamente nos índices de inflação a partir do segundo semestre do ano, quando começa a entressafra no campo. A CNA representa 1 milhão de produtores ligados a 2,1 mil sindicatos.

O superintendente técnico da Confederação, Ricardo Cotta, disse que os consumidores ainda devem absorver boa parte do aumento de 15,74% registrado nos preços agrícolas até março. Para o economista, a elevação média de 75% nas cotações dos fertilizantes agrícolas nos últimos 12 meses terá impacto a partir de julho. E será duradoura. "A alta dos preços dos insumos agrícolas, como os fertilizantes, será sentida só agora, quando o produtor for às compras para plantar a próxima safra. Teremos essa pressão pelos próximos três anos", disse Cotta, ao anunciar um crescimento de 2,8% do PIB do agronegócio no primeiro trimestre.

Os preços do arroz e do feijão, que têm resposta mais rápida na oferta, devem cair no médio prazo, mas a carne bovina continuará a pressionar a inflação dos alimentos. "O consumidor vai sofrer um impacto porque não é possível mais produzir com os mesmos custos de produção do ano passado", disse Cotta.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a inflação dos alimentos está praticamente controlada. Além das medidas já adotadas para conter o processo inflacionário, Mantega lembrou que, no fim do mês, o governo anunciará um pacote de medidas para estimular a produção de alimentos. Este é uma ação conjunta dos ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Embrapa envolvendo ações de estímulo à produção dos pequenos agricultores via financiamento de R$ 6 bilhões para aquisição de máquinas, adoção de tecnologia e ampliação da assistência técnica rural.

Um ministro presente ontem à reunião de coordenação do governo, onde Mantega fez uma explanação sobre a conjuntura, lembrou dos esforços feitos para reverter a dependência externa em relação aos fertilizantes.

O Ministério da Fazenda está monitorando setor a setor que está com pressão de preços. Ontem o presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Flávio Azevedo, esteve com o secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa, e garantiu que não vai faltar aço no mercado brasileiro. "A reunião nos deu oportunidade de reafirmar que, do ponto de vista da siderurgia, não há o mínimo risco de desabastecimento", afirmou Azevedo. Desde o segundo semestre do ano passado, as vendas externas foram reduzidas de 35% para 25% da produção.

Barbosa, segundo o IBS, queria saber o que vai ocorrer "daqui para a frente". Um crescimento de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com Azevedo, significa necessidade de aço de 40 milhões de toneladas/ano em 2015. Mas os investimentos já aprovados e em andamento, avaliados em US$ 30 bilhões, vão elevar a capacidade para mais de 63 milhões de toneladas. Portanto, sobrarão 20 milhões de toneladas para exportações. (Colaborou Arnaldo Galvão, de Brasília)