Título: Standard & Poor's pode elevar nota da Vale
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Fonte: Valor Econômico, 17/06/2008, Investimentos, p. D11

A Standard & Poor's anunciou ontem sua intenção de aumentar a nota de risco de grau de investimento da Vale do Rio Doce, de BBB para BBB+, se a operação de oferta primária de ações da companhia, da ordem de US$ 14 bilhões, for bem-sucedida.

Mas se a operação não for completada, a S&P deverá manter a nota atual para a segunda maior mineradora diversificada do mundo. No momento, a agência de risco colocou a classificação da companhia em observação, com viés positivo.

Na avaliação de uma fonte do mercado financeiro, essa elevação na nota é muito importante para a Vale, pois sinaliza que a agência está prevendo que o sucesso do aumento de capital da mineradora brasileira vai mostrar que ela está pronta para fazer um movimento de aquisição.

Os analistas dão como praticamente certo que a iniciativa de capitalização será seguida de uma grande investida para consolidação internacional do setor. A própria companhia admite que os recursos serão usados para aquisições. No entanto, informou, quando anunciou a oferta global, que não há nenhum negócio em andamento. Os cálculos dos especialistas indicam que a Vale estaria apta a fazer dívidas da ordem de US$ 80 bilhões depois da emissão de ações.

No comunicado divulgado ontem, a S&P explica que colocou a nota da Vale em observação positiva porque ela acaba de anunciar um aumento de capital vigoroso que vai ter um impacto positivo para sua estrutura de capital, dando fôlego para seu programa de expansão de investimentos (US$ 59 bilhões) e possíveis compras. Para a agência de risco "a decisão de acessar o mercado de ações significa uma política financeira prudente da mineradora".

Quando a Vale fez a aquisição da canadense Inco, ela fez dívida, optando por tomar capital de terceiros. No desenho da fracassada aquisição da Xstrata, a companhia preferiu escolher uma combinação de pagamento em ações preferenciais e dívida.

No mercado, os especialistas costumam recomendar que a estrutura de capital das empresas seja uma combinação equilibrada de dívida com capital próprio, obtido com emissões de ações. O ideal é não ficar concentrado em única fonte de financiamento.

As dívidas também permitem que as companhias tornem mais eficiente sua estrutura tributária. Com caixa em excesso, as empresas têm mais ganho financeiro, ampliando o lucro e, portanto, os pagamentos de impostos.

No rastro do anúncio da megaoferta primária de ações, que espera colocar no mercado daqui a um mês (a operação está na fila de espera da Comissão de Valores Mobiliários, que regula o mercado de capitais), a Vale fretou um avião para levar ainda nesta semana investidores para conhecer a província mineral de Carajás, no Pará, onde estão suas minas de ferro, cobre e níquel, dentre outras, e o porto de Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão.

Ontem, em comunicado à CVM, a Bradespar, holding de participações do Bradesco e segunda maior acionista do bloco de controle da Vale, anunciou a venda de 23.918.800 de ações preferenciais ao fundo americano BlackRock, correspondente a 10,5% do capital preferencial da holding. O BlackRock tem hoje um fundo de US$ 8 bilhões em América Latina.

Analistas interpretam o negócio como um primeiro movimento da Bradespar para fazer caixa para subscrever o aumento de capital da Vale. Ela tem 21,2% das ações de controle da empresa na Valepar e 5,7% do capital total da Vale. Em cálculos preliminares, a holding do Bradesco terá que aportar entre US$ 600 a US$ 800 milhões na operação.

O caixa líquido da Bradespar estava em US$ 207 milhões no fim de maio. O valor líquido de seus ativos somava US$ 10,6 bilhões. Desse total, US$ 9, 5 bilhões referem-se à participação que possui na mineradora - o restante são o caixa e a fatia na empresa de energia CPFL.

Analistas do mercado não descartam a possibilidade de a companhia de participações do Bradesco se desfazer das ações da empresa de energia para acompanhar a oferta de ações da Vale e manter inalterada seu percentual na holding Valepar. A participação na companhia de energia equivale a cerca de US$ 939,4 milhões, segundo informações divulgadas ontem pela própria Bradespar.