Título: Ministro da Defesa diz que obras no Morro da Providência vão continuar
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Fonte: Valor Econômico, 18/06/2008, Política, p. A7

Rafael Andrade/Folha Imagem Jobim no Morro da Providência: "Não podemos deixar que o assassinato contamine o que está sendo realizado aqui" A presença do Exército no Morro da Providência deve-se a um projeto do senador e bispo da Igreja Universal Marcelo Crivella, pré-candidato pelo PRB à Prefeitura do Rio. Três jovens do morro foram encontrados mortos na segunda-feira depois que militares do Exército que trabalhavam no projeto entregaram os rapazes a traficantes do Morro da Mineira, controlado por uma facção rival.

O projeto, denominado Cimento Social, recebeu recursos do governo federal. Está sendo conduzido pelo Exército que faz a segurança das obras, que têm por objetivo revitalizar moradias. Os recursos do projeto, num total de R$ 16,5 milhões, foram transferidos do Ministério das Cidades ao da Defesa, segundo acordo de cooperação firmado entre as duas Pastas. A primeira fase das obras, iniciada em dezembro de 2007, custou R$ 3,7 milhões aos cofres da União. A segunda fase da obra, que ainda está em licitação, tem reservados mais R$ 12,8 milhões a serem gastos em 2008.

Embora o governador do Rio, Sérgio Cabral, tenha pedido no início de sua gestão, em 2007, o envio de tropas do Exército para ajudar na segurança pública da cidade, o Exército não chegou a ocupar nenhuma favela com tal intuito. Nos Jogos Pan-americanos, em julho do ano passado, o governo Cabral recebeu apenas o reforço de homens da Força Nacional de Segurança.

Crivella, do mesmo partido do vice-presidente José Alencar e que lidera as pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura do Rio, evitou falar sobre o assunto ontem. Apenas divulgou uma nota lamentando a morte dos rapazes. O senador afirma que as mortes ocorreram por "infeliz coincidência" durante "ação de resgate social, de redução da violência e de retorno à cidadania" e pede punição aos culpados.

Em visita ao Morro da Providência, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, não deixou claro se o Exército vai permanecer no local, mas informou que as obras vão continuar. "Não podemos deixar que o assassinato contamine o que está sendo realizado aqui. Não podemos deixar que esse fato contamine a obra. O Exército está realizando obras em todo o país. Faz parte de um conjunto de ações sociais", disse o ministro. Em reunião com as mães do rapazes assassinados, representantes do Exército pediram desculpas formais pelo episódio.

Jobim foi alvo de um requerimento para explicar as razões da presença do Exército lo no local a pedido do deputado federal Fernando Gabeira, pré-candidato do PV a prefeito do Rio em coligação com o PSDB e o PPS. Gabeira também vai pedir a saída das Forças Armadas do Morro da Providência pois entende que trata-se de favorecimento à candidatura de Crivella. "A presença do Exército no projeto do senador foi uma aberração que só pode ser entendida como uma fragilidade do comandante do Exército, que não teve estatura para defender a instituição diante da pressão política que sofreu", disse Gabeira.

A pré-candidata do DEM, a deputada federal Solange Amaral, disse que seu partido vai entrar com pedido no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro para impedir que o slogan do projeto - Cimento Social - seja usado na campanha de Crivella. "Ele está utilizando a máquina do governo", afirmou.

Na avaliação do cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), o sonho eleitoral de Crivella "foi para o espaço". "Ele foi irresponsável por botar o Exército para tomar conta das obras e não atinou para as conseqüências que isso poderia ter", disse Figueiredo, ressaltando que o Exército sempre evitou interferir nos problemas relacionados à Segurança Pública em favelas.

Jandira Feghali, pré-candidata do PCdoB, partido da base aliada do governo, disse ter havido desvio de função institucional do Exército no caso: "Não pode tomar conta de canteiro de obra, muito menos de uma emenda de um parlamentar que, por coincidência, é candidato".

O pré-candidato do PT, o deputado estadual Alessandro Molon, também fez críticas. "Não é esse o papel do Exército. O gravíssimo crime cometido pelos soldados só foi possível por isso", disse. Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Molon vai pedir uma audiência pública com representantes do Comando Militar do Leste e da Secretaria de Segurança Pública do Rio para explicar o caso. O deputado estadual Paulo Ramos, pré-candidato do PDT para prefeito da cidade, estendeu as críticas para Presidência da República, que segundo ele, apoiou o uso dos militares no projeto de Crivella. (Com agências noticiosas)