Título: Insumos puxam aumento do PIB no campo
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Fonte: Valor Econômico, 18/06/2008, Agronegócios, p. B11

A disparada nas cotações internacionais dos insumos agropecuários, que ameaça o bolso dos produtores rurais, deve levar o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio a bater seu recorde histórico de crescimento neste ano. Estudo conjunto da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea) aponta um avanço nominal de 10% na soma das riquezas geradas pelo campo em 2008. O recorde anterior, de 8,8%, foi atingido em 2002.

O otimismo do setor também está ancorado na expressiva elevação média de 15,74% dos preços agrícolas no primeiro trimestre do ano. De janeiro a março, a expansão global do agronegócio chegou a 2,8%, segundo pesquisa CNA-Cepea. O PIB do segmento de insumos avançou 5,65% neste período com preços na estratosfera. A cotação dos adubos aumentou 50% apenas em março, segundo a CNA. Mesmo prejudicada por esta carestia dos insumos, a produção primária acompanhou o ritmo ao crescer 4,35% no acumulado do ano. Em 2007, o PIB global do agronegócio havia crescido apenas 0,74% no primeiro trimestre.

Embora preocupada com a perda de rentabilidade representada pela alta dos insumos, a CNA parece otimista. "Podemos crescer muito mais neste ano. Só depende dos preços recebidos e do ritmo dessa alta dos insumos, sobretudo dos fertilizantes, que têm peso de 30% nos custos da produção de grãos", analisa o economista Ricardo Cotta, superintendente técnico da CNA. Para ele, o cenário externo é "excelente", mas há sérios riscos no horizonte. "Isso não tem chegado ao bolso do produtor por causa do aumentos dos custos de produção, do câmbio apreciado e da precária infra-estrutura portuária", afirma Cotta. Nos custos de produção da soja na próxima safra 2008/09, por exemplo, a CNA projeta uma elevação de 13% em Sorriso (MT), 11,6% em Rio Verde (GO) e 5,4% em Maracajú (MS). "Estamos bem longe do razoável", diz Cotta.

Se a produção primária e o segmento de insumos estão em alta, a agroindústria registrou uma modesta expansão de 1,4% no primeiro trimestre. Embora bem superior aos 0,04% dos primeiros três meses de 2007, o segmento patina por causa do forte recuo de 9,55% no PIB do setor sucroalcooleiro. Os baixos preços do açúcar no mercado internacional explicam essa retração, segundo Ricardo Cotta. Também com mau desempenho no período está a indústria de abate de animais (-1,6%) em razão da forte alta nos preços do boi gordo nos últimos meses. Para equilibrar, tiveram expansão as indústrias de óleos vegetais (8,9%), elementos químicos (4,5%) e de outros alimentos (3,5%) no mesmo período.

O faturamento bruto dos 25 principais produtos da agropecuária nacional deve crescer 27,4% em 2008, segundo estimativas da CNA. Somados, os produtos devem faturar R$ 277 bilhões neste ano. os produtos agrícolas devem avançar 27%, para R$ 171,4 bilhões. Na pecuária, o crescimento de de iguais 27% devem resultar num faturamento bruto de R$ 105,7 bilhões. Apartada dos demais segmentos, a safra de grãos deve ter a melhor performance, com uma expansão de 52,3% no faturamento, para R$ 102,9 bilhões. Entre os produtos com melhor desempenho em 2008, devem estar carne bovina (44%), soja (53,6%), milho (54,2%), café (33%) e leite (32%). O faturamento da cana-de-açúcar deve recuar 18,4% neste ano.

No cenário para 2008, a CNA projeta oportunidades com a crise mundial de alimentos. "Mas temos que encarar desafios como a elevação dos preços dos fertilizantes, o baixo investimento no setor e os subsídios nos países mais ricos", diz Ricardo Cotta.