Título: Soja e milho têm novas máximas em Chicago
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Fonte: Valor Econômico, 18/06/2008, Agronegócios, p. B12

A crise entre ruralistas e governo na Argentina voltou a jogar mais lenha na fogueira em que se transformou o mercado de commodities agrícolas na bolsa de Chicago desde a semana passada, quando as fortes chuvas nos Estados Unidos passaram a impulsionar as cotações dos grãos.

A preocupação americana com as inundações em regiões produtoras do Meio-Oeste do país cresceu tanto que as turbulências argentinas ficaram submersas nos últimos dias. Com as notícias de desabastecimento interno por causa dos protestos ruralistas no exportador sul-americano, porém, a influência "altista" voltou à tona.

Conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o país e a Argentina deverão representar, juntos, 72,9% das exportações mundiais de milho na safra 2008/09 (em desenvolvimento no Hemisfério Norte). Nos embarques de soja, a participação conjunta deverá atingir 52,1%. Nos dois casos, os EUA têm fatias bem superiores. Os números americanos foram estimados ainda no início das inundações no Meio-Oeste.

Dado o peso dos dois países, os problemas motivaram o quinto recorde seguido dos preços do milho em Chicago. Os contratos de segunda posição de entrega (atualmente aqueles que vencem em setembro) subiram 9,75 centavos de dólar e fecharam a US$ 7,5650 por bushel. Segundo o Valor Data, as altas acumuladas dos papéis de segunda posição chegaram a 62,08% em 2008, a 77,58% em 12 meses e a 206,28% nos últimos dois anos.

No caso da soja, o bushel de segunda posição (agosto) atingiu nova máxima histórica e fechou a US$ 15,6275, com ganho de 25,25 centavos de dólar. No ano, a valorização acumulada na segunda posição atingiu 28,70%; em 12 meses, aumentou para 82,88%; nos últimos dois anos, chegou a 157,67%.

Nos próximos dias, afirmam analistas, os dois países seguirão no foco dos traders de Chicago, mas o comportamento do clima nos EUA continuará como a principal variável para a formação das cotações dos grãos em Chicago, pelos menos no que refere aos chamados fundamentos do mercado.

Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York, realçou que, além das perdas de produção provocadas pelas inundações, concentradas em Iowa, o escoamento dos grãos do Estado pelo rio Mississipi - principal meio de transporte fluvial de grãos no país - está ameaçado, já que houve transbordamento.

Ainda que Iowa seja o maior Estado produtor de milho e soja dos EUA, de acordo com a agência Bloomberg, os prejuízos reais, por enquanto, são restritos, como observa Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja.

Segundo ele, a área de milho de Iowa representa pouco mais de 15% do área plantada nacional. Do total estadual, disse, cerca de 8% terá de ser replantado por conta das águas. No plantio de soja, também 8% da área de Iowa foi prejudicada, e o Estado responde por 13% da área nacional.

"Em 1993, quando os EUA tiveram a pior enchente em 500 anos, também houve muita preocupação e a safra foi praticamente normal", lembrou. Mas Sartori também ressalvou que os problemas climáticos já levaram o USDA a reduzir em 10 milhões de toneladas sua estimativa para a produção de milho do país em 2008/09.

Com a alta do milho, os preços do boi voltaram a bater recorde histórico ontem em Chicago. Os futuros de segunda posição (agosto) subiram 0,14% ontem, para 103,60 centavos de dólar por libra-peso, e passaram a acumular valorização de 24,15% em dois anos.

E o trigo também registrou alta, influenciado por milho e soja e pela expectativa de que mais uma estiagem reduza a oferta na Austrália. Os contratos de segunda posição (setembro) subiram 22 cents, para US$ 9,1625 por bushel.