Título: Distribuidoras de gás do Rio ainda renegociam contratos com clientes
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2008, Brasil, p. A2

José Carlos Araújo, presidente da Agenersa: "Não faltará gás no Rio" Os grandes consumidores de gás natural do Rio estão de novo preocupados com a renegociação dos contratos de fornecimento de gás com a Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro (Ceg) e com a Ceg Rio. As distribuidoras, que são controladas pela grupo espanhol Gás Natural, tentam convencer os grandes empresas a se tornaram consumidores bicombustíveis, o que permitirá substituir o gás natural pelo óleo combustível em caso de necessidade de se aumentar a geração de energia elétrica de fonte térmica.

A Petrobras já renovou os contratos de suprimento com 19 distribuidoras do país. Ofereceu três modalidades de contrato - firme flexível, firme inflexível e interruptível. No do tipo firme flexível, o consumidor tem a opção de receber ou óleo combustível ou ar propanado, o também chamado gás natural sintético, que resulta da mistura de GLP com oxigênio. Se utilizados, os dois combustíveis substitutos sairiam das refinarias e seriam entregues na "porta" do cliente. A entrega do caro gás sintético no lugar do natural depende de negociação isolada de cada empresa com a sua distribuidora.

No Rio os grandes clientes querem tempo para adaptar suas instalações ao consumo de óleo ou, em alguns casos específicos, de GLP. Mas para isso é preciso obter licença ambiental. Roberto Salvador, gerente de energia da Bayer em Belford Roxo, explica que no momento negocia para que a empresa se torne cliente flexível, trocando metade de seu atual consumo de gás pelo óleo, já que não pode usar GLP. A Bayer consome 100 mil metros cúbicos de gás por dia.

Os investimentos para usar óleo serão compensados pela Ceg através de um abono no preço do gás, que no fim será pago pelos grandes consumidores, excetuando-se os comerciais e residenciais. O problema, segundo ele, é o prazo estabelecido pela distribuidora, que gostaria que em setembro o novo contrato já estivesse em vigor. "Não há condições de isso ocorrer até setembro até em função dos prazos de entrega dos equipamentos, montagens e engenharia. E mesmo que se feche o acordo, não estamos aptos a cumprir no prazo estipulado", explica Salvador.

Por causa disso, o diretor de Estudos e Regulação do grupo Gás Natural Brasil, Angel Benedí, disse que a Ceg e a Ceg Rio negociam prazos diferentes com cada empresa e acha que a migração no Estado não pode ser imediata. "Ao contrário de São Paulo, onde já existia equipamentos substitutos, aqui precisamos fazer alguns investimentos em instalações para usar o óleo combustível como 'back up' para o gás natural", explica. Mesmo assim, espera assinar todos os acordos de flexibilização dos volumes até 30 de junho.

A Ceg e a Ceg Rio precisam acomodar os clientes industriais dentro de um consumo de 7,3 milhões de metros cúbicos/dia de gás. As térmicas do Rio precisam de outros 10 milhões de metros cúbicos/dia se forem acionadas, mas esses contratos são fechados diretamente com a Petrobras. No contrato da estatal com as distribuidoras - que queriam volumes maiores - foi acertado aumento de 5% ao ano na oferta de gás.

Por enquanto, nenhuma empresa quer partir para o confronto, mas o clima de algumas reuniões andou tenso. Procuradas, a Vale e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) disseram que preferem não falar no momento. A diretora de Gás e Energia da Petrobras, Graça Foster, também não quer comentar o assunto. Em todos os contratos assinados, a estatal impôs cláusulas de confidencialidade que não permitem saber quanto custará a substituição de gás pelo óleo, mais caro, sem que o consumidor pague por isso.

Amanhã, a Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Estado do Rio (Agenersa), divulga pré-edital de revisão tarifária qüinquenal das duas distribuidoras. A audiência pública será dia 4 de julho. O presidente da agência, José Carlos dos Santos Araújo, acha que o mais importante para o Rio foi que a Petrobras assinou um contrato garantindo 7,3 milhões de metros cúbicos de gás, quando o anterior previa a entrega de 5 milhões de metros cúbicos. "Está afastado o fantasma de falta de gás no Rio."