Título: IGPs vão impactar administrados até 2009
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Fonte: Valor Econômico, 19/06/2008, Brasil, p. A7

A aceleração do Índice Geral de Preços (IGP), ainda sem perspectiva de arrefecimento, comprometerá já neste ano a inflação de produtos e serviços de preços administrados (combustíveis, energia elétrica, telefonia, medicamentos, educação). Economistas começam a rever as projeções para este grupo e confirmam os administrados como um dos principais fatores de pressão inflacionária em 2009.

Em julho, os preços dos pedágios serão reajustados pelo IGP-M, que em 12 meses acumula alta de 11,53%. As tarifas de energia elétrica, que no ano passado foram reduzidas na revisão de contratos, neste ano também devem sofrer aumento, contribuindo para elevar o índice. Em São Paulo, o reajuste acontece em julho. Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria Integrada, também prevê aumento mais expressivo nas tarifas de ônibus urbanos em novembro, após as eleições - em conseqüência da alta do IGP e do reajuste do óleo diesel em maio, que ainda não foi repassado.

Além dos administrados, observa, alguns serviços de preços livres também são reajustados com base no IGP. É o caso de contratos de aluguel de imóveis, TV a cabo e mensalidades escolares. "A aceleração do índice trará impacto também em 2009", diz. O economista revisou a projeção de IGP para este ano de 8% para 10%. A inflação de administrados para 2008 está estimada em 4% e, para 2009, em 4,6%.

A SLW Asset Management, que já havia revisado suas projeções no começo do mês, estima para o ano um IGP entre 13% e 14%, o que significaria uma inflação em preços administrados de 6,4% neste ano e pelo menos 5% em 2009, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da corretora. "Os administrados em 2009 podem subir de 5% a 7%, dependendo de como fecharem este ano. Em conjunto com combustíveis e alimentos, será certamente o principal fator de pressão inflacionária."

Para Gomes, os IGPs, que sobem acima de 1% desde abril, devem se manter em níveis altos entre julho e agosto, quando o setor siderúrgico fará novo reajuste de 15%. "Os IGPs devem seguir acima de 1% pelo menos até setembro", prevê.

"Como muitos itens do IGP são derivados do aço, o efeito de um novo reajuste tende a permanecer durante um bom tempo, com repercussões no atacado e no índice da construção", avalia Raphael Castro, economista da LCA Consultores. Ele acrescenta como fatores de pressão para julho o repasse do atacado para o varejo das altas nos preços das carnes bovina e suína e do feijão, que entram no período de entressafra. Na primeira semana de junho a alta do feijão foi de 25,9%, e do boi subiu, de 4,6%, segundo a MB Associados.

Outra incógnita é a evolução nos preços de alimentos (soja, trigo, milho e seus derivados), que voltaram a subir no mercado internacional após notícias de que as enchentes no Iowa poderão afetar a safra americana. Por conta deste cenário, a LCA revisou a projeção do IGP de 8,5% par 11,2%. A previsão para preços administrados foi revista de 3,5% para 3,9% neste ano, e de 4,5% para 4,9% em 2009. A MB Associados estima para o ano alta de 3,5% em preços administrados e, para o próximo ano, de 4,5%, com viés de alta para 5%, dependendo das variações que ocorrerem nos próximos meses, diz Sérgio Vale, economista-chefe.

Luís Fernando Azevedo, economista da Rosenberg & Associados, também estima aceleração no índice até o segundo semestre. Para o mês de junho, ele estima um IGP-M acima de 2%. A consultoria ainda não reviu a projeção para o IGP no ano, mas segundo Azevedo, o indicador certamente ficará acima de 10%. Para os preços administrados, ele estima alta de 3,8% em 2008 e de 5% no próximo ano.

Em junho, o IGP-10 registrou alta de 1,96%, a maior desde fevereiro de 2003, mas dentro das expectativas dos economistas, que variavam entre 1,7% e 2%. O índice ficou acima do IGP-DI (apurado até 31 de maio), que subiu 1,88%. Em 12 meses, o IGP-10 acumula alta de 12,71%. No mês, afirmou Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, os principais fatores de pressão foram os reajustes de preços no atacado e no segmento da construção - e, dentro destes grupos, as maiores altas foram registradas nos itens carnes bovina e suína, arroz, aço e seus derivados. O índice de preços por atacado (IPA) subiu 2,21%, com aceleração em produtos agrícolas (2,62%) e industriais (2,06%). No varejo, a inflação foi de 0,93%.