Título: Uma região em convulsão
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2011, Mundo, p. 52

BAREIN 23 presos libertados

Enquanto o monarca Hamad ben Isa Al-Khalifa viajava à Arábia Saudita para um encontro com o rei Abdullah, os manifestantes que exigem reformas no regime monárquico sunita do Barein se recusaram a aliviar a pressão sobre o governo. Ontem, foi anunciada a libertação de 23 ativistas xiitas, que eram acusados de crimes ¿terroristas¿ e foram indultados por Al-Khalifa. Mesmo assim, na capital, Manama, os protestos continuavam na Praça da Pérola, que se tornou o epicentro da revolta. Depois dos distúrbios de terça-feira, as forças de segurança deixaram o centro da cidade e nenhum policial estava na área ontem, em um sinal do desejo de apaziguamento das autoridades com a oposição. Mas a situação pode voltar a se agravar. ¿Agora que todos podem dar sua opinião, nós acreditamos que as praças públicas não são o melhor lugar para que as pessoas se manifestem¿, declarou o rei, por meio de um comunicado divulgado pela agência oficial BNA.

EGITO Incêndio e tensão

Policiais insatisfeitos por terem sido demitidos atacaram com artefatos incendiários um prédio ao lado do Ministério do Interior egípcio, no Cairo, e as chamas atingiram pelo menos seis veículos estacionados em frente. A junta militar que comanda o Egito desde a renúncia de Hosni Mubarak não comentou o incidente. Mais cedo, uma fonte do setor de segurança disse que o incêndio havia atingido um edifício usado para armazenar provas criminais. Tanques e soldados ainda estão posicionados nos cruzamentos da capital egípcia desde a derrubada de Mubarak. Policiais a paisana e soldados interditaram a área ao redor do ministério, afastando centenas de observadores que chegaram para ver os veículos em chamas. ¿O ministério disse a eles que poderiam ter seus empregos de volta, mas quando eles chegaram com seus documentos, lhes disseram que deveriam usar o papel para beber água¿, afirmou uma testemunha.

ARÁBIA SAUDITA O retorno do rei

Tentando evitar que a onda de revolta responsável pela convulsão em países vizinhos engolfe o país, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, anunciou ontem medidas sociais para beneficiar trabalhadores, estudantes e outros cidadãos. A obtenção de crédito também será facilitada. O anúncio foi feito no retorno de Abdullah a Riad (foto), de onde estava afastado há três meses para tratamento médico. O rei ordenou um aumento de 15% dos salários para 1 milhão de sauditas que trabalham no setor público, assim como um aumento de US$ 10,7 bilhões no fundo de financiamento da habitação, com o intuito de responder melhor às demandas de crédito imobiliário.

O monarca de 86 anos também anunciou um indulto para alguns prisioneiros indiciados por crimes financeiros e revelou planos para combater o desemprego, assim como medidas para ajudar estudantes no exterior.

IÊMEN Mais duas mortes

A morte de dois manifestantes no Iêmen, em um ataque de partidários do presidente Ali Abddullah Saleh a um protesto antigoverno em Sanaa, reforçou a determinação dos opositores ao regime, que ontem prosseguiam mobilizados na capital do país. O Congresso Geral do Povo (CGP), o partido no poder, adiou uma contramanifestação prevista para ontem devido à morte dos oposicionistas. Ao mesmo tempo, oito deputados governistas renunciaram para protestar contra a violenta repressão à oposição. As duas vítimas participavam de um protesto na Universidade de Sanaa, na noite de terça-feira, para exigir a saída do presidente quando foram baleados em um ataque armado. O atentado deixou 11 feridos. O ataque ocorreu por volta da meia-noite e os manifestantes reagiram aos agressores com a ajuda da polícia. Doze pessoas haviam morrido nos protestos em Aden (no sul do país), há 10 dias, segundo fontes médicas, mas o governo reconhece apenas quatro vítimas.

JORDÂNIA Um novo ¿Dia da ira¿

A oposição islâmica convocou para amanhã um protesto na capital, Amã, destinado a ¿denunciar a violência e reclamar reformas¿. Zaki Bani Rsheid, do comitê executivo da Frente de Ação Islâmica (FAI), vinculada à Irmandade Muçulmana e principal partido de oposição, afirmou esperar que pelo menos 10 mil pessoas participem do ¿Dia da ira¿ local. Outros 19 partidos e grupos endossaram a convocação para o ato na capital e pediram outras mobilizações em diferentes províncias do reino. ¿O governo obteve um prazo para executar as reformas, mas claramente hesita e tenta ganhar tempo com palavras¿, atacou Bani Rsheid. Os integrantes do movimento islâmico haviam limitado sua participação nas manifestações nas últimas semanas depois de abrirem um diálogo com o governo. As manifestações começaram em janeiro, em protesto contra o aumento do custo de vida. Em 1º de fevereiro, o rei afastou o primeiro-ministro e se comprometeu a realizar reformas amplas.