Título: Ultraportáteis provocam corrida no país
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Fonte: Valor Econômico, 19/06/2008, Empresas, p. B3

Claudio Dias, presidente da Syntax: primeiro minilatop da companhia brasileira será apresentado na próxima semana e vai custar cerca de R$ 1,2 mil

Netbooks, ultraportáteis, sub-notebooks, pocket PCs, minilaptops e por aí vai. Nomes não faltam para tentar definir a nova onda dos minúsculos computadores portáteis que começam a invadir o mercado. O que falta é consenso entre os fabricantes, ainda divididos entre os que acreditam estar à beira de uma nova categoria de produtos e os que não enxergam mais que uma variação dos notebooks tradicionais.

Tendência ou modismo, a realidade é que o surgimento desses aparelhos - caracterizados pelo tamanho inferior a 10 polegadas, configuração simples e preço razoavelmente baixo, entre R$ 700 e R$ 1 mil - vem mexendo radicalmente com o mercado mundial de PCs.

A taiwanesa AsusTek, que praticamente abriu as portas desse mercado com seu aparelho de nome peculiar, o EeePC, tem puxado o coro dos ultraportáteis, mas em todo o mundo os fabricantes estão arregaçando as mangas para disputar sua fatia do bolo. No Brasil, a expectativa é de que uma verdadeira guerra está para começar.

A Positivo Informática começou a vender seu ultraportátil, o Mobo, há pouco mais de três semanas. Hélio Rotenberg, presidente da empresa, diz que, por enquanto, é preciso separar a emoção de lançamento do mercado real. "Acredito que essa seja uma oportunidade grande, mas só teremos uma idéia completa em alguns meses."

Para o executivo, não há dúvidas de que os ultraportáteis têm grande apelo em mercados como o brasileiro, principalmente por incentivar a produção de modelos de baixo custo.

Primeira fabricante brasileira a colocar um ultraportátil no varejo, a Positivo vai enfrentar uma lista de rivais prontas para entrar no jogo. A fabricante nacional Syntax, que acaba de conseguir seu Processo Produtivo Básico (PPB) para montar laptops em Ilhéus (BA), vai apresentar seu ultraportátil na próxima semana. "Teremos um produto em torno de R$ 1,2 mil, com peças importadas da Ásia e montado no Brasil" diz Claudio Dias, presidente da Syntax. O PPB é um sistema de isenção tributária que tem como contrapartida a produção no Brasil.

Para não ficar para trás, a AsusTek inaugura nesta semana seu primeiro escritório no país. De São Paulo, a empresa "começa a importar oficialmente" suas máquinas, diz Stanley Chen, gerente de desenvolvimento de negócios da companhia no Brasil. Até o fim do ano, a AsusTek pretende vender 60 mil EeePCs no país. A maior novidade é que, até janeiro do ano que vem, a companhia planeja iniciar a produção de equipamentos no Brasil, por meio de um fabricante terceirizado. "Vamos triplicar as vendas em 2009", diz Chen.

A disputa promete. Ainda nesta semana, a Hewlett-Packard (HP) apresenta seu ultraportátil. O produto, que chega ao Brasil pouco mais de dois meses após seu lançamento nos EUA, terá uma configuração mais sofisticada que a média dos modelos disponíveis. A HP vai importar os primeiros aparelhos, mas a intenção é trazer o processo de montagem dos equipamentos ao país. Os estudos já começaram, diz Cláudio Carneiro, gerente de notebooks da HP.

A expectativa da HP, afirma Juan Pablo Jimenez, vice-presidente de computação pessoal, é que o ultraportátil seja um produto de nicho. "Buscaremos públicos específicos; (o equipamento) não será o primeiro computador do usuário."

A coreana LG e a taiwanesa HTC também estudam ações na área. Sergio Buch, supervisor de notebooks da LG, diz que a companhia finaliza um estudo para medir o potencial do segmento no Brasil. O levantamento, a cargo da empresa de pesquisa Synovate, vai detalhar o perfil dos usuários. "Ultraportátil é algo novo e, dependendo da configuração, pode trazer novidades", comenta Buch. Em países como França e Alemanha, a LG foi surpreendida ao descobrir que os equipamentos - em vez de parar nas mãos de executivos e estudantes universitários - têm feito sucesso entre donas de casa, que os levam até a cozinha para ouvir música e acessar a internet.

Fora do Brasil, compra-se um minilaptop básico por algo entre US$ 300 e US$ 400. Mas também há modelos mais caros. A HTC, voltada a aparelhos sofisticados, quer trazer seu minilaptop ao país no terceiro trimestre, diz Allan Macintyre, gerente de marketing da empresa no Brasil. O equipamento, que conta com recursos como tela sensível ao toque, terá custo entre R$ 1,9 mil e R$ 2,3 mil.

Hoje, a HTC importa parte dos seus produtos, mas alguns modelos de celulares já são montados no Brasil, em parceria com a canadense Celestica, especializada em produção sob encomenda. "Vamos analisar o mercado de ultraportáteis. Há estudos para trazer a fabricação para cá."

A ala mais moderada é puxada pela Dell, Sony e Lenovo. Raymundo Peixoto, diretor geral da Dell no Brasil, diz que a nova categoria de produtos está sob avaliação, mas que a empresa ainda acha que é cedo para tomar decisões sobre o assunto. "É preciso ter cautela. Não podemos vender TV preto e branco na era da TV digital", afirma.

Ao consumidor, os fabricantes recomendam cuidado na hora de escolher uma máquina para não se decepcionar mais tarde. Elber Mazaro, diretor de marketing da Intel no Brasil, diz que há desde aparelhos que permitem pouco mais do que navegar na web até máquinas que oferecem praticamente todos recursos de um portátil tradicional. "É importante saber diferenciar", afirma. "Há limitações que, no fim, podem frustrar o usuário."

A julgar pelos planos dos fabricantes, vai haver máquinas para todo gostos. Os próprios executivos do setor já foram seduzidos pela novidade. Jimenez, da HP, diz que só está esperando a máquina da empresa chegar ao país para adquirir o modelo. Rotenberg, da Positivo, já faz viagens curtas carregando um Mobo debaixo do braço. (*Valor Online)