Título: Alckmistas apostam em quórum alto na convenção
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2008, Política, p. A8

Os correligionários do ex-governador Geraldo Alckmin apostam no alto comparecimento dos delegados na convenção do PSDB em São Paulo, no domingo, para derrotar os dissidentes tucanos que apóiam a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). O quórum alto pode garantir a vitória da tese da candidatura tucana para a disputa da Prefeitura de São Paulo.

Para vencer na convenção é preciso ter 50% dos votos mais um, ou seja, 673 votos dos 1344 delegados. O grupo que defende a manutenção da aliança com o DEM divulga ter o apoio de 424 delegados, segundo o líder da bancada do PSDB na Câmara Municipal, vereador Gilberto Natalini. Para impedir a candidatura Alckmin esse grupo precisará garantir o voto dos delegados que dizem ter e ainda apostar no baixo comparecimento dos demais delegados.

Mesmo diante da dificuldade numérica de ganhar, o grupo, ligado ao governador José Serra, pretende acirrar ainda mais a disputa. "Estamos caminhando para a convenção para vencer", reforçou o vereador Natalini. "Temos mais uma centena de delegados que não assinaram nenhuma lista de apoio, mas que dizem que votarão na tese de apoio à candidatura do DEM", comentou. Já do lado dos apoiadores de Alckmin, essa contabilidade é motivo de ironia. "Eles dizem ter 400 assinaturas, mas muitos desses delegados já estão declarando que vão votar a favor da candidatura própria", comentou o deputado Edson Aparecido, interlocutor do ex-governador paulista. "Estamos nos mobilizando para que o quórum seja alto e nós vamos ter 900 votos a favor de Alckmin."

Ainda que percam, os tucanos que defendem a reeleição de Kassab pretendem mostrar a Alckmin que ele não terá apoio total do partido em torno de sua candidatura. Como alternativa a Alckmin, eles apóiam que o tucano deixe de ser candidato em 2008 para disputar o governo estadual, em 2010. O ex-governador tucano rejeita essa possibilidade.

Às vésperas da convenção municipal, o clima de tensão entre os dois grupos fez com que o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), passasse o dia de ontem em São Paulo em longas reuniões com dirigentes e vereadores do PSDB paulistano. Guerra pediu aos representantes do partido que não nacionalizem a disputa municipal e que não levem o embate às últimas conseqüências. Embora a tentativa do dirigente partidário fosse fazer com que os tucanos pró-Kassab desistissem de continuar apoiando a candidatura do DEM, Guerra disse que o PSDB nacional não intervirá no caso paulistano.

A Executiva Nacional ainda pode vetar a chapa pró-Kassab até as 12h do sábado, um dia antes da convenção. Sérgio Guerra disse continuará se reunindo com outros dissidentes até domingo, mas por enquanto não há o que comentar sobre o assunto. "Estou propondo que não haja confronto domingo. Não dá para ter", disse.

Depois do encontro com Guerra, os tucanos dissidentes amenizaram o tom crítico e os vereadores pró-Kassab se comprometeram a retirar qualquer contestação judicial à convenção. Gilberto Natalini afirmou que vai retirar o mandando de segurança que impetrou contra a organização do evento.

Alckmin tentou minimizar a resistência à sua candidatura. "Coisas de mão beijada não têm a mesma força. Esta disputa me faz o melhor candidato", afirmou. Já o prefeito Kassab evitou dar declarações a respeito das dissidências dos tucanos. Questionado se haverá clima entre seu partido e o PSDB para fecharem aliança no segundo turno, Kassab disse que espera que a coligação seja firmada já no primeiro turno. "Tenho me esforçado com a maior ética possível para que a gente tenha a aliança no primeiro turno." O prefeito defendeu a participação de seus secretários filiados ao PSDB na disputa interna que pretende escolher o candidato a prefeito dos tucanos nas eleições municipais de outubro.

A convenção, instância máxima do partido, ficou de fora do programa do PSDB que foi ao ar ontem, em rede nacional. Os temas municipais e as eleições deste ano também ficaram de fora. O partido deu destaque às realizações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e deu espaço para entrevistas dos governadores Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas), pré-candidatos do partido à sucessão presidencial em 2010.

Ao longo dos dez minutos de duração, lideranças do PSDB focaram seus discursos na defesa da política econômica elaborada por FHC e destacaram o Plano Real. O partido foi apresentado como o "líder da derrubada da CPMF". As privatizações foram elogiadas e apresentadas como parte de um processo de modernização do país. Os tucanos também tentaram capitanear a "paternidade" dos programas sociais que foram ampliados durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (Com agências noticiosas)