Título: Sanguessugas na Câmara dos Deputados
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2011, Política, p. 4

Se parte dos personagens envolvidos no mensalão já se prepara para ocupar cargos de destaque na política, os envolvidos no escândalos das compras fraudulentas de ambulâncias, descoberto em 2006, somente agora conseguiram voltar a mandatos políticos. Depois de serem acusados de negociar emendas parlamentares para favorecer a Planam, empresa de Luiz Antônio Vedoin, cinco deputados que agora voltaram à Câmara tiveram quatro anos de ostracismo. No caso de Jorge Pinheiro (PRB-GO), o retorno à vida pública só foi possível modificando o domicílio eleitoral ¿ mesmo artifício empregado duas vezes pelo ex-deputado José Tatico (PTB-GO), primeiro político a ser condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado.

Depois de ser um dos protagonistas da máfia das ambulâncias, como também ficou conhecido o escândalo dos sanguessugas, Pinheiro ¿ acusado de ter recebido R$ 75 mil do esquema comandado por Vedoin ¿, desfiliou-se do PL do Distrito Federal e elegeu-se suplente por Goiás. Acabou assumindo o mandato no lugar de Vilmar Rocha (DEM-GO), que deixou a Câmara para assumir uma secretaria estadual.

Além de Pinheiro, voltaram quatro personagens do escândalo de fraudes em licitações de ambulâncias ¿ Benjamin Maranhão (PMDB-PB), Heleno Silva (PRB-SE), Josué Bengston (PTB-PA) e Nilton Capixaba (PTB-RO). Capixaba é acusado de ter sido um do braços mais fortes do esquema e teria recebido R$ 631 mil de Vedoin. ¿Na época do escândalo, eu tinha 50% de chances de me tornar senador. Esse caso me tirou dois mandatos: de senador e deputado. Ninguém foi condenado pelo escândalo, ele nem foi apurado¿, reclama o parlamentar de Rondônia.

No total, 140 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal por envolvimento no episódio. A primeira denúncia foi feita em junho de 2006 contra 81 acusados. A segunda, contra 59, um mês depois. Até hoje, ninguém foi punido. A única exceção é a do ex-deputado federal e hoje vereador mineiro Cabo Júlio (PMDB), condenado pela Justiça a devolver R$ 143 mil aos cofres públicos e a pagar multa de três vezes o valor embolsado do erário. (II)

Regime semiaberto O STF condenou, em 27 de setembro do ano passado, o então deputado federal José Tatico a sete anos de prisão, em regime semiaberto, pelos crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, Tatico teria deixado de repassar ao INSS as contribuições recolhidas de funcionários da empresa da qual era dirigente, entre 1995 e 2002. Foi a primeira vez que o Supremo condenou uma autoridade parlamentar à pena de prisão.