Título: Infra-estrutura deficiente emperra o crédito
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2008, Finanças, p. C2

A falta de conhecimento sobre os potenciais usuários e os problemas de infra-estrutura são as principais dificuldades para o crescimento da indústria de crédito para populações de renda mais baixa na América Latina. A afirmação é do vice-presidente sênior de produtos da MasterCard América Latina e Caribe, Max Chion, que participou ontem da divulgação da pesquisa "Mercado de crédito popular nas sete principais cidades da América Latina".

Para Chion, mesmo com as dificuldades, as inovações tecnológicas e os investimentos em infra-estrutura vão aos poucos reduzindo os custos de implantação de mecanismos de crédito para a baixa renda, o que deve permitir a passagem de consumidores que hoje recorrem ao mercado informal de crédito no continente.

"A tendência é a convergência dos clientes hoje no mercado informal para um mercado financeiro possivelmente muito distinto do que temos hoje", ressaltou.

Apresentada pelo professor Jon Cloke, da universidade britânica de Loughborough, a pesquisa analisa o mercado de crédito popular de São Paulo, Rio, Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México, Caracas e Santiago. Em linhas gerais, mostra que a dificuldade de acesso ao crédito é a tônica no continente para camadas de renda mais baixa.

Entre os resultados da pesquisa no Brasil, destaque para a baixa penetração do acesso ao crédito por pequenas empresas em São Paulo. Na maior cidade do país, apenas 6% dos pequenos e médios negócios usaram o microfinanciamento em 2007. Além disso, 49% desse tipo de empresa não têm conta.

No Rio de Janeiro, 45% das micro, pequenas e médias empresas não têm conta corrente e 21% não fazem qualquer transação via sistema bancário formal. Já o número de cartões de crédito passou de um para cada 4,9 habitantes em 2001 (35,4 milhões de cartões no geral), para uma cartão para cada duas pessoas (93 milhões) em 2007.

De acordo com a pesquisa, a continuada vulnerabilidade econômica da região anda de mãos dadas com a necessidade de desenvolvimento de um setor de serviço financeiro forte e diversificado. Segundo o estudo apresentado por Cloke, a diversificação necessária passa pela adaptação a características locais, em vez da mera importação de modelos americanos ou europeus.

Cloke argumenta que grande parte das instituições financeiras da América Latina veio de matrizes americanas ou européias.

"Isto levou a uma abordagem mais lenta da questão (da difusão do crédito). Mas isso não é culpa dos bancos, que usam práticas históricas no continente", diz Cloke, que cita o crédito concedido por redes varejistas como uma prática rentável que oferece a integração ao setor financeiro de pessoas com renda abaixo da média.