Título: CNA promete ir ao Cade contra os frigoríficos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Agronegócios, p. B10

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) decidiu denunciar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) o que considera a formação de um "cartel dos frigoríficos" brasileiros. O presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, disse ontem, que as indústrias frigoríficas enviaram, ao mesmo tempo e de forma coordenada, cartas a todas a suas unidades com recomendações sobre condições de pagamento e especificações mínimas para "baixar os preços" dos animais. Nogueira, que ontem levou as cartas "idênticas" ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que os frigoríficos querem aplicar redutores de preços segundo o peso mínimo diferenciado para bois, vacas e animais castrados. "Foi uma decisão unilateral, que não foi discutida com os pecuaristas", afirmou. Segundo ele, as indústrias só aceitam animais com peso superior a 16 arrobas. "Isso é contra a lei federal do novilho precoce, que permite a venda de animais de 15 arrobas", disse. "Isso também vale para animais com peso abaixo de 12 arrobas. A cada arroba a menos, querem impor um desconto padrão de 5% ". Nogueira disse que os frigoríficos não querem mais aceitar os chamados "bois cruzados", animais de genética mista. "Assim, mini e pequenos pecuaristas não poderão vender mais bois porque eles só criam animais cruzados". A CNA convocou reunião dos pecuaristas para o dia 18, em Goiânia (GO), para discutir o assunto e propor incentivos para a construção de frigoríficos em cooperativas. O diretor da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, disse que a entidade não interfere nas relações com pecuaristas. "O Antenor está focando na Abiec, mas não trabalhamos no mercado interno. E não estipulamos preços. Manejamos apenas temas de mercado externo". Fontes de frigorífico e corretores dizem que as exigências das empresas têm como objetivo obter animais de elevado padrão de qualidade para abate, principalmente para exportação. "São demandas do mercado", disse um corretor. (Colaborou Alda do Amaral Rocha, de São Paulo) O secretário-executivo do Ministério da Indústria e Comércio e Exterior, Márcio Fortes, pode ir a Moscou nos próximos dias para discutir com o governo russo o embargo às carnes brasileiras - parcialmente suspenso - e o sistema de cotas de importação de carnes, que deixou o Brasil novamente sem cotas específicas. Segundo fontes do setor exportador de carnes, os brasileiros estão pedindo audiência com as autoridades russas para discutir as duas questões. Na pauta do encontro também estará o apoio brasileiro à entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para algumas dessas fontes, a Rússia gostaria de ver um apoio maior do Brasil a seu acesso na OMC do que o visto até agora. Em Brasília, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, reafirmou ontem que o embargo - motivado por um caso de aftosa no Amazonas - "é uma questão política, muito maior que técnica. De forma extra-oficial, sei que eles consideraram normais as nossas condições de controle, mas os argumentos não têm sido suficientes " . Ele pediu articulação do Fórum Nacional dos Secretários de Agricultura e dos governadores para ajudar a levantar o embargo junto a autoridades russas.