Título: Meta de inflação para 2010 deve ficar em 4,5%
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2008, Brasil, p. A3

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve sacramentar, em reunião no dia 30, a meta de inflação de 4,5% para 2010, repetindo, pelo sexto ano consecutivo, o mesmo percentual. Desde que assumiu, em janeiro de 2003, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante de grandes pressões inflacionárias, estabeleceu uma meta ajustada de 8,5% para 2003, quando a meta era de 4%; revisou de 3,75% para 5,5% a de 2004; e, daí em diante, optou por mantê-la inalterada em 4,5%. Ao longo desses anos, a inflação efetivamente ocorrida foi de 9,3 em 2003, 7,6% em 2004, 5,69% em 2005, 3,14% em 2006 e 4,46% em 2007.

A aceleração da inflação nos últimos meses, decorrente dos aumentos dos preços dos alimentos e das commodities, é uma razão suficientemente forte para não criar muita polêmica em torno da inflação dos próximos anos. Ao contrário do ano passado, quando o governo tinha que definir a meta de 2009 e houve divergências entre o Banco Central (que defendia uma redução da meta) e o Ministério da Fazenda (que optou por manter os mesmos 4,5% e venceu a discussão) agora há um certo consenso de que não dá para ousar muito.

O debate no governo, aliás, é outro: se é preciso adotar desde já mais medidas para conter a escalada dos preços ou se é mais aconselhável aguardar que as medidas tomadas - como o aumento dos juros e do esforço fiscal, entre outras - produzam seus efeitos no tempo. "Encavalar mais medidas antes dos efeitos das já adotadas pode é dar um tombo no crescimento da economia", disse um graduado funcionário do governo que esteve na reunião do presidente Lula com a área econômica e conselheiros privados, na quinta-feira.

Venceu, por enquanto, a tese de que a inflação ainda vai aumentar antes de começar a se estabilizar e cair - o que deve ocorrer só depois de outubro e novembro e que é melhor esperar. Embora o ministro Guido Mantega seja, junto com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do economista Luis Gonzaga Belluzzo, um defensor do controle do crédito como um instrumento a mais de contenção do consumo, há, no Ministério da Fazenda, uma ala de economistas que sustenta que é hora de ter calma e esperar pelos efeitos do que já foi feito.

O aumento dos juros e do superávit primário, mais o compulsório sobre as operações de "leasing" e a própria inflação (que vai "comer" parte dos rendimentos das classes de mais baixa renda, diminuindo sua capacidade de consumir), são elementos que, juntos, podem dar uma boa reduzida na demanda agregada. Mas isso só vai ocorrer nos próximos meses.

Nesse clima, não há qualquer espaço para se debater mudanças na meta de inflação para 2010, embora seja da natureza do regime de metas para a inflação buscar atingir uma taxa neutra, que não afete as decisões dos agentes econômicos, num horizonte não tão longínquo.

O governo de Fernando Henrique Cardoso, que instituiu o regime em 1999, até que tentou caminhar nessa direção, ao definir uma "escadinha" para o IPCA, que saiu de 8% em 1999 para 6% no ano 2000, 4% em 2001, 3,5% em 2002 e chegou a ousar numa meta de 3,25% para 2003, intenção que durou pouco. Conseguiu cumprir apenas as metas dos dois primeiros anos, usando o intervalo de tolerância. Hoje este intervalo é de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.