Título: PT do Senado ameaça acordo com PMDB
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2008, Política, p. A8

PT e PMDB preparam-se nos bastidores para uma disputa política com alto potencial de desgaste da base governista no Congresso, marcada para fevereiro de 2009: a sucessão dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), tem o compromisso escrito de lideranças do PT de apoiá-lo para suceder Chinaglia. Mas o acordo está ameaçado, porque o PT do Senado luta pelo direito de presidir a Casa depois da Garibaldi. Para isso, defende que o acordo com Temer seja cumprido mediante contrapartida do PMDB no Senado.

A reivindicação tem respaldo do líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), contrário ao acúmulo das duas presidências pelo PMDB. "É recomendável que haja alternância nas duas Casas, para manter o equilíbrio político e evitar que haja hegemonia de um partido da base", afirma.

Rands e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), tratam as sucessões das duas Casas como questões conjugadas. "A alternância na Câmara pressupõe alteração no Senado. Para nós é bastante claro que para o equilíbrio da coalizão governista não é adequado que um partido comande as duas Casas", diz Ideli.

A mesma posição é defendida pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e cogitado para assumir a lideranças da bancada a partir de 2009. Ele nega rumores de que postularia a candidatura a presidente. Como Ideli, Mercadante diz que o nome natural do PT é o do vice-presidente da Casa, Tião Viana (PT-AC).

"O PMDB não pode acumular as duas Casas. Não é bom para a democracia nem para o partido", afirma Mercadante. Ele lembra que o PMDB tem amplo espaço no ministério (cinco pastas) e duas das três lideranças do governo no Congresso (Senado e Congresso). "O PMDB tem que saber trabalhar dentro de um governo de coalizão e de uma base de sustentação integrada por 11 partidos", diz. Segundo ele, o PT do Senado está em aguardando o que vai acontecer na Câmara.

PT e PMDB não deflagraram abertamente as negociações, pelo desgaste que pode resultar delas. Temer procura demonstrar confiança no cumprimento do acordo pelo PT, tentando desvincular as duas Casas. "O acordo que está escrito refere-se apenas à Câmara", diz .

O problema é que o PMDB do Senado não está disposto a ceder a vaga. O partido reivindica o direito de indicar os dois presidentes por ter as maiores bancadas da Câmara (94 deputados) e do Senado (20). O PT vem em segundo lugar na Câmara (79) e em terceiro no Senado (12) - atrás do DEM (13) e empatado com o PSDB (12).

"Pelo que tenho sentido na bancada do PMDB, não há nenhuma disposição de abrir mão da vaga", afirma o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO). Segundo ele, a discussão acontecerá no final do ano. "Discutir isso agora traria muito desgaste para a base governista", reconhece. Citado por colegas como potencial candidato, o líder nega.

Entre os pemedebistas, a articulação mais comentada é do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Ele teria comunicado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a disposição de disputar.

O nome da preferência de Lula é José Sarney (PMDB-AP), mas o ex-presidente rejeita a disputa. A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso, cogitada, também nega. "A prioridade do partido é eleger Michel Temer na Câmara", afirma Roseana, sem se aprofundar na polêmica entre PT e PMDB.

O petista Arlindo Chinaglia foi eleito em 2007 num acordo entre PT e PMDB. Os pemedebistas abriram mão, mas ganharam dos líderes petistas e do presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), compromisso por escrito de apoio à sua eleição em 2009. Segundo Rands, no acordo "ficou sinalizado" que a alternância a ser feita na Câmara ocorreria também no Senado.

Chinaglia e Garibaldi não podem ser reeleitos para mais dois anos de mandato, porque não haverá troca de legislatura em 2009 - o que ocorre a cada quatro anos. A oposição terá papel importante na sucessão. Por enquanto, os líderes José Agripino (DEM) e Arthur Virgílio (AM) não discutiram o assunto com suas bancadas.

"Essa conversa é deles (governistas), que são brancos. Nós somos pardos", diz Virgílio. Ele e Agripino admitem que, dependendo da movimentação dos governistas, a oposição pode lançar um candidato, reunindo votos dos dissidentes e descontentes da base aliada. "Inevitavelmente, as duas sucessões são vasos comunicantes. A decisão de uma Casa interfere na outra", diz Agripino.