Título: BC tenta segurar dólar com swap
Autor: Alex Ribeiro, Cristiane Perini Lucchesi e Luiz Sér
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Finanças, p. C

Alex Ribeiro, Cristiane Perini Lucchesi e Luiz Sérgio Guimarães Aproveitando a abundância de dólares no mercado - e para evitar uma maior apreciação da taxa de câmbio -, o Banco Central comunicou ontem que irá acelerar ainda mais a redução de sua dívida cambial. A partir de hoje, irá vender contratos cambiais ("swaps") em uma posição oposta da habitual. Até então, o BC pagava aos investidores a variação da cotação do dólar e recebia juros; a partir de agora, vai pagar juros aos investidores e receber a variação do dólar. Vai, na prática, comprar dólar futuro. Essa nova forma de atuação do BC tem duas conseqüências. Do ponto de vista do governo, representa uma queda do endividamento em dólares, o que reduz sua vulnerabilidade a uma eventual disparada do câmbio. Do ponto de vista do mercado, significa que o conjunto de instituições poderá descarregar no BC o excesso de posição em moeda estrangeira, evitando maior queda do câmbio. Esse objetivo, de atuação na taxa de câmbio, é negado pelo BC. Segundo especialistas do mercado, os bancos têm hoje posição vendida no mercado à vista de US$ 2 bilhões. O problema é que o BC vinha comprando dólar no mercado à vista, onde havia secado a oferta, e mesmo assim o real não parava de subir. A razão: com a alta na taxa de juros brasileira, o investidor estrangeiro passou a vender dólares, mas no mercado futuro. Ganha dessa forma os juros em reais. As posições líquidas vendidas do investidor estrangeiro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) passaram de US$ 682,5 milhões em 2 de janeiro de 2004 para US$ 3,6 bilhões no dia 31 de janeiro último, segundo cálculos do Valor, considerando-se o valor total (notional) dos contratos. Com a compra de dólares no futuro, o BC passa a atuar no mercado no qual a abundância de dólares é maior. No mesmo dia em que anunciou que voltará a vender dólar no mercado futuro, o Banco Central divulgou critérios para um leilão que ocorrerá hoje, das 12h às 13h. No leilão, a autoridade monetária venderá até 8 mil contratos dos seguintes vencimentos: 1º de julho de 2005, 2 de janeiro de 2006, 17 de janeiro de 2007 e 2 de janeiro de 2008. Inicialmente, os leilões terão periodicidade semanal, sendo que os critérios de cada operação serão divulgados um dia antes de sua realização, após o fechamento dos mercados. Cada instituição financeira poderá formular, no máximo, cinco propostas por vencimento. Serão aceitas apenas as propostas com cotação igual ou inferior à cotação máxima aceita pelo BC. O resultado do leilão será divulgado no mesmo dia, a partir das 14h30. A rentabilidade dos contratos de "swap" registrados na Bolsa de Mercadorias & Futuros começará a valer em 4 de fevereiro. O BC disse que "continuará a seguir a prática de oferta de acordo com pesquisa de demanda realizada junto aos dealers de câmbio e de mercado aberto antes de cada vencimento significativo de instrumentos cambiais". Segundo o BC, a nova estratégia não mudará em nada a sistemática de compra de dólares para fortalecer as reservas internacionais. "A atuação será baseada em condições adequadas de mercado a cada momento e terá como objetivos não adicionar volatilidade ao mercado cambial nem interferir na tendência de flutuação da taxa", informa comunicado do BC. "O programa deve ser entendido como mais um esforço de redução do passivo cambial, sem quaisquer compromissos com o nível de taxa de câmbio nominal." O economista-chefe da ABN AMRO Asset, Hugo Penteado, acredita que não será objetivo do BC determinar a taxa de câmbio. Isso nenhum banco central será capaz de fazer num regime de câmbio flutuante. Ao optar por agir com um instrumento derivativo, o BC visa conter o excesso de operações cujo resultado final é a derrubada do dólar. "Haverá menos volatilidade na taxa de câmbio", avalia Penteado. O economista diz que os fundamentos não sugerem um dólar abaixo dos R$ 2,80. A economia mundial está se desacelerando, os preços das commodities se reduziram, as exportações estão mais fracas e, mesmo assim, o fluxo continua intenso. Para analistas, com a decisão de ontem o BC irá combater o principal responsável pelo declínio do dólar: os negócios fechados no mercado futuro cuja rentabilidade é o juro elevado. Ao assumir posição ativa em derivativo cambial e passiva em DI futuro, o BC irá desestimular essas operações. Com isso, concentra a política monetária no seu objetivo precípuo, que é combater a inflação e não atrair capitais externos indesejáveis.