Título: Oeste baiano busca a liderança em algodão
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2008, Agronegócios, p. B12

Dez anos após consolidar sua retomada no Estado do Mato Grosso, a cultura do algodão começa a se "movimentar" para o outro lado do cerrado, mais precisamente para o oeste baiano. Depois de viver seu auge nos anos de 1970 e 1980 na região Sudeste do país, o plantio de algodão definhou, massacrado pela concorrência dos fios sintéticos importados.

Com clima propício para a expansão da cultura, o oeste baiano tornou-se rapidamente o segundo maior produtor do país, atrás do Mato Grosso, Estado onde o algodão refloresceu e tornou-se referência de qualidade no mercado internacional.

"Temos um forte pólo consumidor aqui no Nordeste e infra-estrutura logística para escoamento para os portos e a região Sudeste", diz João Carlos Jacobsen Rodrigues, presidente da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia).

Foi a partir do fim dos anos de 1990 que a cultura do algodão voltou a ganhar força no país, impulsionada por pesados investimentos em áreas no Mato Grosso. Tradicionais produtores de soja do Centro-Oeste abriram áreas para o algodão, fizeram aportes em beneficiadoras e máquinas, colocando o produto brasileiro na rota internacional. O Brasil saiu da condição de importador para o quarto maior exportador mundial.

Mas os altos custos de produção, cerca US$ 2.600 por hectare - três vezes mais que o da soja - por conta do peso maior dos insumos para combater pragas, como o bicudo, por exemplo, têm desestimulado parte do produtores do Mato Grosso num momento de melhor rentabilidade do milho e da soja. No oeste baiano, os custos são até 20% mais baixos que no Mato Grosso.

Maior produtor de algodão do Brasil, o Mato Grosso responde por 51% da oferta nacional. A Bahia tem uma fatia de 30% - há cinco anos respondia por 10%. Analistas ouvidos pelo Valor acreditam que o Mato Grosso não terá mais avanços expressivos, e a área de algodão poderá recuar um pouco no Estado. Já na Bahia, a cultura deve ganhar terreno.

Segundo Décio Tocantins, diretor da Ampa (Associação dos Produtores de Algodão do Mato Grosso), os produtores do Mato Grosso não vão abandonar o algodão, com exceção dos de pequeno e médio portes, sem infra-estrutura para o beneficiamento da pluma. "Não há hoje uma disposição dos grandes produtores em fazer novos investimentos no algodão. Muitos vão manter a área porque têm compromissos de exportação fechados para os próximos anos e já fizeram aportes na região."

A tendência no momento, considerando os preços mais atrativos dos grãos, é de que a área para algodão no Mato Grosso se mantenha ou recue. No oeste da Bahia, única região com crescimento expressivo de plantio - taxas médias de 10% a 15% nos últimos três anos - a tendência é de avanço. Por conta do clima, o algodão baiano também é considerado de melhor qualidade, com fibras mais claras. No mercado internacional, os preços do algodão estão 27,8% valorizados nos últimos 12 meses.

Na safra 1997/98, quando o Mato Grosso começou a investir na cultura, a produção era de 94 mil toneladas. Para esta safra, a colheita está estimada em quase 800 mil toneladas. Há dez anos, a produção na Bahia era de 13 mil toneladas. E só começou a ganhar impulso a partir da safra 2002/03, quando tinha uma produção de 114 mil toneladas. Para esta safra, colherá cerca de 480 mil toneladas.

Com forte pólo consumidor têxtil no Nordeste, que absorve cerca de 300 mil toneladas de pluma por ano, os produtores do oeste baiano têm suas dívidas atreladas ao dólar, que está em desvalorização, observa Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

O oeste da Bahia também tem tradição em soja, mas fica em desvantagem por estar longe das esmagadoras. A situação é oposta no Mato Grosso, que concentra boa parte das processadoras do grão. No caso do algodão, contudo, o pólo têxtil está instalado, no Sul, Sudeste e Nordeste do país.