Título: Ata obriga Tesouro a aceitar juro maior
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Finanças, p. C2

No primeiro leilão formal de títulos públicos depois que o Banco Central divulgou a ata incendiária do Copom de janeiro, o Tesouro Nacional foi obrigado ontem a aceitar juros bem mais elevados para conseguir vender 4,2 milhões de LTN, papéis prefixados. O aperto monetário exercido pelo BC desde setembro por meio de atos, atas e entrevistas não encarece apenas as LFTs, os títulos pós-indexados à Selic. Os prefixados também ficam mais pesados, por comparação com os pós-fixados e por equiparação com os juros futuros negociados na BM&F. Não é sem razão que, dos bastidores do primeiro escalão de Brasília, vem brotando com freqüência rumores sobre o descontentamento do secretário do Tesouro Joaquim Levy com a política praticada pelo seu colega Henrique Meirelles do BC. Com o leilão de prefixadas, o Tesouro irá recolher do mercado R$ 3,56 bilhões. Como as instituições não aceitam o alongamento da dívida pública, o maior lote, composto por 4 milhões de LTN, tem vencimento curto, em janeiro de 2006. Foi colocado por taxa máxima de 19,27%. Há uma semana, papéis com o mesmo prazo foram vendidos por juro de 18,90%. O lote menor - 200 mil LTN com resgate em julho de 2006 - saiu por juro máximo de 18,69%, ante 18,54% na semana passada.

A LTN com resgate em janeiro saiu por juro maior do que o negociado no mercado futuro de juros da BM&F. O DI com vencimento em janeiro de 2006 subiu ontem de 18,96% para 19%, ainda assim mais baixo que os 19,27% aceitos pelo Tesouro. O pregão de DI futuro continua levando muito a sério a ameaça do BC de congelar a Selic, em patamar elevado, por tempo "suficientemente longo". O pregão aposta que o juro subirá até outubro, cujo contrato avançou ontem de 19,17% para 19,21%, caindo depois, já com vistas a distensão monetária esperada para o ano eleitoral de 2006. Juro alto amplia o fluxo de capitais externos para o Brasil. O dólar comercial oscilou ontem ao sabor das expectativas em torno da primeira reunião do ano do Comitê de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve, que começou ontem e termina hoje. O resultado - provável alta do juro básico de 0,25 ponto percentual - será anunciado às 17h15. Se o resultado é conhecida, há grande controvérsia em torno do comunicado pós-reunião. Não se descarta aceno de um aperto maior. O dólar oscilou entre R$ 2,6030 e R$ 2,6230, mas fechou no zero a zero, cotado a R$ 2,61. O BC fez o seu 15º leilão de compra de dólares do ano. Adquiriu pela mesma cotação vigente no mercado na hora do anúncio do leilão, R$ 2,618. Como não abandona a sua política de não interferência em preço, seus leilões têm efeito nulo sobre a taxa de câmbio. Ao contrário, ao operar em derivativos na posição cambial ativa, o BC irá confrontar as forças que hoje derrubam o dólar. A autoridade monetária assumirá a ponta de compra dos contratos futuros, inibindo quedas da moeda no mercado à vista. A posição ativa em dólar futuro implica em passiva em juro futuro. A curva de juro irá subir.