Título: Portas abertas às mulheres
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2011, Política, p. 8

A eleição da primeira presidente abriu caminho para a expansão da figura ¿primeiro-cavalheiro¿ na política brasileira. O recorte da nova Esplanada e do novo Congresso guarda histórias de dois ex-governadores que saíram de cena para dar suporte à carreira de suas mulheres e até mesmo de um militar que decidiu dedicar seu tempo livre para fazer afagos e a facilitar a árdua rotina de uma comandante de ministério.

Quando a ministra da Pesca, Ideli Salvatti, chega em casa depois de um dia de reuniões, sabe que vai encontrar ¿a comida que ela mais gosta e um bom vinho¿, em um jantar organizado pelo marido, Jeferson Figueiredo. Após a nomeação de Ideli para o ministério, o subtenente decidiu pedir transferência de Santa Catarina para o Batalhão de Polícia do Exército em Brasília. Com a vinda do marido, a ministra pôde abandonar a rotina de hotéis para constituir um lar na capital do país.

Figueiredo, como é conhecido o marido de Ideli, mostrou jogo de cintura para conquistar a mulher. Eles se conheceram no Mercado Público, em Florianópolis, quando a então deputada distribuía convites para o lançamento de sua candidatura ao Senado. Ele tomou a iniciativa e pegou um dos impressos. Se dependesse de Ideli, no entanto, a paquera teria parado ali. Quando Figueiredo pediu o telefone da petista, ganhou o número do gabinete da deputada. Mas não desistiu até conseguir o celular. ¿Não fiquei inibido, porque eu estava na verdade flertando a pessoa e não a autoridade¿, conta o subtenente.

O marido da ministra admite que gosta quando surpreende novos amigos ao dizer que é casado com Ideli. O sentimento de ¿orgulho e admiração¿ é compartilhado pela mulher, que se derrete ao contar os talentos do marido como triatleta e autodidata em russo. ¿Entre ser Iron Man ¿ como são chamados os esportistas ¿ e aprender russo, o mais difícil é me aguentar¿, faz charme.

Ex-ministro, três vezes governador, prefeito de Aracaju e agora no posto de marido da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), João Alves Filho não perde a piada para definir o avanço feminino em áreas antes dominadas pelos homens. ¿Desempregado e primeiro-damo¿, brinca. O ex-governador conta que, na primeira vez em que a mulher disputou, precisou recorrer ao conselheiro espiritual de Maria do Carmo para convencê-la a se candidatar.

A atuação da sergipana em trabalhos sociais, quando era primeira-dama, renderam à senadora popularidade semelhante à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elogia o marido. ¿Ela foi se candidatar a senadora para ajudar o marido ser governador. Eu perdi a eleição e ela ganhou de uma maneira esmagadora. Ela é muito mais amada em Sergipe do que eu e tem mais capacidade de transferência de votos do que o Lula¿, compara. João Alves lamenta que a mulher, por problemas de saúde, não tenha participado de sua campanha ao governo do estado em 2010. ¿Se ela estivesse me apoiando na rua, eu não teria perdido.¿

A exemplo do casal ¿João e Maria¿ de Sergipe, a Câmara abriga a história de Íris e Iris. Ex-ministro de três diferentes pastas, governador de Goiás e prefeito da capital, o peemedebista Iris Rezende agora está sem cargo e se diz ¿orgulhoso¿ da evolução política de sua esposa, a deputada federal Íris Araújo (PMDB-GO). Mas ele acha que as mulheres ainda estão deixando a desejar, pois há sobra de vagas na cota partidária para candidaturas femininas.

Para o ex-governador, a ampliação da presença feminina nas administrações pode elevar a qualidade da vida pública. ¿A mulher é mais cuidadosa no trato da coisa pública, é muito difícil ver mulher metida em falcatrua¿, diz. Rezende afirma que o trabalho da mulher como deputada não afasta o casal. ¿Eu pessoalmente me sinto muito orgulhoso. O mandato não atrapalha o casamento, Brasília está muito próxima de Goiânia.¿