Título: Dólares no caixa do governo garantem pagamento de dívida externa em 2005
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2005, Finanças, p. C2

Com as emissões de bônus externos e a compra de dólares, o governo praticamente garantiu os pagamentos da dívida externa oficial em 2005. Os vencimentos neste ano somam US$ 11,6 bilhões, incluindo principal e juros. Os dólares acumulados desde o ano passado pelo Tesouro Nacional e Banco Central para honrar compromissos já somam perto de US$ 10 bilhões. A conta fecha com os ingressos de organismos multilaterais: cerca de US$ 2 bilhões. Isso significa que, a partir deste mês, as compras de dólares e novas captações do Tesouro e BC terão o efeito de elevar as reservas internacionais - e suavizar os efeitos de eventuais crises externas. "O financiamento externo será tão ou mais fácil do que 2004, apesar de estarmos convivendo com juros internacionais mais altos", disse o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon. "O Brasil está aproveitando para pré-financiar sua dívida." O governo começou a formar um colchão para honrar compromissos no último trimestre de 2004. Aproveitando as condições excepcionais de liquidez internacional, decidiu antecipar US$ 1,5 bilhão do cronograma de lançamento de bônus em 2005, que projetava colocações no total de US$ 6 bilhões. Com as duas emissões feitas em janeiro - uma em euros e outra em dólares -, o acumulado chega a US$ 3,4 bilhões. Outra fonte de dólares são as aquisições do Tesouro em mercado para pagar a dívida externa velha e o Clube de Paris, feitas por meio do Banco do Brasil. O governo anunciou que, por esse mecanismo, compraria US$ 2,448 bilhões este ano. O governo não divulga regularmente o quanto adquiriu; o número oficial mais recente é que restariam US$ 964 milhões a serem comprados. Analistas dão como certo que, com a liquidez favorável em janeiro, o limite tenha sido atingido. A expectativa é que o Tesouro amplie suas aquisições e comece formar caixa para honrar os compromissos que vencem no segundo semestre. Pelo sistema atual, porém, o Tesouro só compra dólares para honrar compromissos da dívida velha e Clube de Paris que vencem em seis meses. Mas, no segundo semestre, entre os pagamentos dessas rubricas, está previsto US$ 1,304 bilhão para outubro e US$ 756 milhões para dezembro. Uma alternativa seria mudar o sistema, e o Tesouro passar a comprar dólares para pagar dívida nova - com vencimentos de US$ 3,126 bilhões em julho. Já as intervenções do BC somaram, de dezembro até 20 de janeiro, US$ 4,1 bilhões. Hoje serão divulgados números sobre as aquisições feitas pelo BC. A expectativa é que, entre dezembro e janeiro, tenham chegado a US$ 5 bilhões. "O Tesouro e o BC têm aproveitado bem as oportunidades criadas a partir do último trimestre de 2004, quando ampliaram as condições de liquidez no mercado internacional", diz Roberto Padovani, da Tendências. Neste ano, haverá vencimentos pesados (US$ 7,028 bilhões) dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). A intenção é honrar este compromisso com dinheiro das reservas internacionais. O efeito será nulo, porém, do ponto de vista das reservas internacionais líquidas - que mostra o volume de dólares realmente disponível para enfrentar crises externas - , que excluem justamente os empréstimos do FMI. Esse cenário relativamente tranqüilo de financiamento, opina Salomon, não é garantia de que o país estará imune a eventuais crises - por isso ele defende a renovação do acordo com o FMI. "Graças às condições favoráveis de liquidez internacional, que permitiram pré-financiar a dívida, a volatilidade do câmbio seria hoje mais contida do que em episódios recentes, mas não deixaria de ocorrer", avalia. "O acordo (com o FMI) seria uma forma de seguro bastante barata." Padovani, numa posição oposta, considera dispensável a renovação do acordo. "Não estamos vendo problemas de financiamento externo pela frente", disse.