Título: Oposição responsável
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2011, Política, p. 8

Aqueles que diminuíram a relevância do resultado das eleições para o Legislativo, afirmando que o tamanho das bancadas dos partidos que apoiaram Dilma não impressionava, pois sua lealdade era incerta, terão que reconsiderar a opinião

A votação do valor do novo salário mínimo na Câmara, na quarta-feira, não é definitiva, pois falta a manifestação do Senado. Ninguém, no entanto, espera que o resultado mude, de ampla vitória da proposta do governo que o fixa em R$ 545.

Apesar de não ter sido conclusiva, foi uma votação de grande importância, e não só por seu significado para a economia, a sociedade e as finanças públicas. Pela primeira vez, saímos das especulações sobre o jogo político no governo Dilma e ficamos perante seu funcionamento concreto. É evidente que muita coisa pode (e vai) mudar nos próximos meses e anos, mas foi uma oportunidade para ver como ele acontece, hoje, na prática.

Nela, ficou mais claro o que é a base do governo naquela Casa, o que são as oposições e que relações existem entre elas. Permitiu, ainda, avaliar que reações às iniciativas do governo se podem esperar de alguns setores da mídia.

Contrariando o que muitos analistas e especialistas supunham, a solidez da base de sustentação do governo na Câmara passou bem pelo teste. Aqueles que diminuíram a relevância do resultado das eleições para o Legislativo, afirmando que o tamanho das bancadas dos partidos que apoiaram Dilma não impressionava, pois sua lealdade era incerta, terão que reconsiderar a opinião.

A votação mostrou que foi bom para Dilma que sua coligação tivesse eleito tantos parlamentares e ruim para as oposições que tivessem perdido deputados e senadores.

A principal incógnita era quanto ao PMDB. A heterogeneidade de sua composição (fruto do modo frouxo como se articula nacionalmente) e a quantidade de deputados que formam sua bancada eram motivos para imaginar que não seria capaz de votar de maneira organizada.

Quem leu o que disse a maioria dos comentaristas sobre a insatisfação das lideranças peemedebistas com o tratamento que receberam do governo na formação do ministério e do segundo escalão, deve ter ser surpreendido. Em vez de rebeldia, traições e punhaladas, o PMDB votou maciçamente na proposta governista. Ou seja, é bom para Dilma ter Michel Temer como vice.

No PT e nos outros partidos da base, o governo contou com o que era possível, considerando a matéria que estava em pauta. Lembrando que muitos petistas e vários deputados das outras legendas têm origem no sindicalismo, querer a unanimidade de seu voto na aprovação de um salário mínimo antipático seria esperar demais.

Feitas as contas, votaram contra o governo, nas propostas de R$ 560 e R$ 600, apenas 120 e 106 deputados, respectivamente, o que quer dizer que as oposições tiveram de 24% a 21% dos votos. Olhando pelo outro lado, que o governo contou com de 76% a 79% dos votos, confirmando o que se esperava, que tivesse perto de 400 deputados na sua base.

E as oposições? Se há uma coisa que essa votação deixou óbvio é que o PSDB tem que resolver logo o que pretende fazer de sua vida nos próximos anos. Nada mais triste que ver gente séria andando pelo plenário com adesivos defendendo os R$ 600, algo que todos sabem ser nocivo ao país.

A proposta de levar o salário mínimo a esse patamar ¿ defendido por Serra quando se deu conta de que iria perder a eleição presidencial e reapresentada pelo PSDB sabe-se lá o porquê ¿ não tinha o endosso real dos partidos da oposição. Neles, ainda bem, a larga maioria é de parlamentares responsáveis.

O que leva pessoas sérias a defenderem ideias sem pé nem cabeça? Note-se que foi o PSDB o mais identificado com elas, pois a liderança do DEM agiu de maneira mais equilibrada, apoiando a proposta de R$ 560. O serrismo não fez bem aos tucanos antes, durante e depois das eleições. Está na hora de evitar que continue a atrapalhar.

Ou então, o partido pode fazer como sugere um articulista de um dos nossos ¿grandes jornais¿. Comentando o desfecho da votação e, naturalmente, aprovando o comportamento dos serristas, declarou que ¿a irresponsabilidade é uma arma perfeitamente legítima do jogo político¿.

Se é isso que pensa o PSDB, basta continuar como está. Se não, tem que mudar.