Título: Estratégia para coibir dissidentes
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 20/02/2011, Política, p. 11

A tropa de choque do governo no Senado trabalha todo o fim de semana para coibir dissidências na Casa durante a votação do projeto que reajusta o valor do salário mínimo para R$ 545. A contabilidade mostra que já são pelo menos 45 votos certos a favor da proposta ditada pelo Executivo. Apesar da vitória iminente, os líderes querem evitar surpresas e mostrar serviço ao Planalto. Para isso, já fizeram acordo a fim de garantir votação nominal, como foi na Câmara dos Deputados. O líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), é o articulador da estratégia que pretende constranger prováveis rebeldes e reduzir a expectativa de 15 dissidentes da base na apreciação da matéria.

A votação nominal interessa também à oposição. Reduzidos numericamente, PSDB e DEM encontraram no projeto do salário mínimo uma brecha de aproximação com os movimentos sindicais. A emenda que propõe reajuste maior do que o previsto no projeto elaborado pelo governo será apresentada pelo PSDB e votada nominalmente. ¿Se o governo não pedisse, nós iríamos cobrar o voto nominal. Não queremos a votação simbólica. É importante ver a forma como cada senador vota a matéria e por qual valor de reajuste estão brigando. Essa transparência interessa ao governo e à oposição¿, diz o líder tucano, Alvaro Dias (PR).

Como em todo início de mandato, os aliados têm poucas divergências e uma lista de demandas reprimidas que está em tempo de ser negociada. Nesse cenário, governo e lideranças da base estão animados. Acreditam que, a exemplo do que ocorreu na Câmara, a votação desta semana será a oportunidade de dar uma demonstração tanto da temperatura das relações de fidelidade do Senado com o Planalto e também de provar que os líderes são capazes de impor diretrizes aos seus liderados.

O quadro é bom para o líder do governo. Romero Jucá, que passa o fim de semana em Brasília para conversar com os parlamentares, acredita que, amanhã, vai conseguir a aprovação do pedido de caráter de urgência para o projeto e, na quarta-feira tentará colocar o tema na pauta. ¿Temos pressa. Não vou acatar emendas e até já fechamos acordo para a votação nominal. Acredito que resolvemos tudo nesta semana¿, diz o senador, que foi escalado para relatar o projeto.

Teste A votação do novo valor do salário mínimo será um teste também para o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL). Depois de construir os acordos em torno da reeleição de José Sarney (PMDB-AP) para o comando da Casa, a ele interessa mostrar a capacidade de coesão do PMDB no Senado. Uma forma de fortalecer ainda mais a legenda na disputa e nas negociações por cargos.

Na Câmara, o líder Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) conseguiu que os 77 peemedebistas presentes na sessão da última quarta-feira votassem com o governo. Nem o PT conseguiu tamanha façanha ¿ houve dois dissidentes na sigla. Esse placar serviu de recado a ser usado na mesa de negociações: esses mesmos 77 deputados que endossaram a proposta oficial podem atrapalhar o governo no futuro, caso reivindicações não sejam atendidas.