Título: Lula cobra planos de integração
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Fonte: Valor Econômico, 26/06/2008, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer iniciar as obras da usina hidrelétrica de Garabi, um projeto bilateral entre Brasil e Argentina, antes do término do seu mandato, e quer reduzir o custo e o desconforto nas viagens de cidadãos sul-americanos ao Brasil. O recado sobre Garabi foi dado por Lula, ontem, ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante reunião com ministros e integrantes do governo para avaliar as iniciativas anunciadas pelo Brasil para assegurar a integração com os vizinhos sul-americanos. O cronograma inicial da usina, que terá capacidade instalada de 1,8 mil MW e investimentos na ordem de US$ 2 bilhões, previa o início da construção a partir de 2011.

Para atender à preocupação de Lula com a integração aérea do país com a região, o ministro da Defesa, Nélson Jobim, prometeu concluir, em trinta dias, um estudo para reduzir a taxa de embarque brasileira cobrada nos vôos da América Latina, que hoje encarecem em mais de um terço a passagem de algumas cidades nos países vizinhos. Hoje, por lei, se cobra a mesma taxa de embarque para um vôo originado em Tóquio ou em cidades sul-americanas na fronteira do Brasil, o que desestimula o fluxo de passageiros e a criação de linhas aéreas com a vizinhança.

Preocupado em estimular o trânsito aéreo regional, Lula também deu um prazo ao Ministério da Justiça, até o fim do semestre, para criar, nos aeroportos brasileiros canais de acesso especiais nos postos de imigração para os cidadãos dos países da América do Sul, como estabelecido pelos governos da região desde 2000. No próximo semestre, sob a presidência temporária do Brasil no Mercosul, esse canal especial tem de estar funcionando, cobrou o presidente.

Na reunião com ministros, Lula deu sinal verde para cobrir, com recursos do orçamento, o fundo que será criado durante a reunião de cúpula do Mercosul, na semana que vem, para dar garantias em empréstimos destinados a micro e pequenas empresas dos países do bloco. Os técnicos calculam que serão necessários US$ 50 milhões anuais para fornecer as garantias, hoje o principal obstáculo para que as empresas de menor porte obtenham financiamento em projetos de integração produtiva. O orçamento federal deverá bancar também pontes de ligação com a Bolívia, o Uruguai e o Paraguai, em valor superior a US$ 100 milhões.

Lula comemorou com os ministros a informação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que já começam na próxima semana os testes do novo sistema de comércio entre Brasil e Argentina com uso de moeda nacional, sem necessidade do dólar nas transações bilaterais. Até setembro, o sistema estará operando, informou Mantega. Para isso, será necessário editar uma medida provisória - em análise na Casa Civil - que cria no Banco Central uma "linha de contingência" para garantir as operações diárias

Na ausência do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que está em Caracas onde participará do encontro entre Lula e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez na sexta, um representante da estatal detalhou os investimentos da empresa na região, especialmente na Bolívia: US$ 70 milhões este ano e pelo menos US$ 484 milhões até 2014. Ao pedir informações para levar ao encontro com Chávez, Lula foi informado de que não estão prontos, para assinatura na reunião, o estatuto e o acordo de acionistas entre a Petrobras e a PDVSA , para a operação conjunta da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, em negociação desde 2005.

Deve ser assinado em Caracas, porém, um acordo de intenções para suprimento de gás ao Brasil, do campo de Mariscal Sucre, que começa a ser operado em 2014. A Petrobras confirmou, ainda, que só deverá entrar com 10% na futura refinaria de Carabobo, a ser construída na Venezuela.

Também foi discutida no encontro a negociação para construção, com know-how brasileiro, de três usinas hidrelétricas no Peru. Fontes do governo afirmam que o governo peruano poderia financiar essa obra, cuja produção seria revendida integralmente ao Brasil. O governo peruano alega ter energia suficiente para atender à demanda interna e ganharia com a exportação de energia para o Brasil. (colaborou Daniel Ritner)