Título: FHC vela Ruth ao lado de Lula
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Fonte: Valor Econômico, 26/06/2008, Política, p. A7

O velório de Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reuniu ontem na Sala São Paulo, centro da capital paulista, as cúpulas do governo federal dos anos FHC (1995-2002) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de artistas, empresários, acadêmicos e políticos de todo o país.

Ao chegar à cerimônia, às 17h20, acompanhado da primeira-dama Marisa Letícia, Lula abraçou demoradamente seu antecessor. Ambos demonstraram comoção. O presidente ficou 40 minutos no velório com grande comitiva de Brasília, formada pelos ministros José Múcio (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil), Hélio Costa (Comunicações), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Haddad (Educação), Edison Lobão (Minas e Energia), Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Franklin Martins (Comunicação Social).

Assim como o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), Lula também decretou luto oficial de três dias pela morte da ex-primeira-dama. O prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), fez o mesmo.

Também acompanharam Lula os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e os senadores petistas Aloizio Mercadante (SP) e Tião Viana (AC).

Antes disso, o presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), passou pelo local. O primeiro petista a chegar foi o ex-governador do Acre Jorge Viana, ao passo que o primeiro integrante do primeiro escalão do governo foi o ministro dos Esportes, Orlando Silva. Os empresários Roger Agnelli (Vale do Rio Doce), Marcio Cypriano (Bradesco), Horácio Lafer Piva (Klabin) e o ex-presidente da Fiesp Mário Amato, além do atual presidente da instituição, Paulo Skaf, foram alguns dos empresários presentes.

O velório começou às 11h, com o caixão de Ruth Cardoso aberto e semi-coberto por uma bandeira do Brasil e uma bandeira dobrada do município de Araraquara, interior paulista, onde a ex-primeira-dama nasceu. Ao lado do corpo estavam dois lanceiros do regimento Nove de Julho da Polícia Militar. Muito comovido, Fernando Henrique chegou às 12h30 na Sala São Paulo. Por diversas vezes durante o dia se retirou do local, por estar, segundo amigos, abalado com a perda da mulher, que faleceu às 20h de anteontem vítima de uma arritmia grave decorrente de doença coronariana.

Com a chegada de Lula, houve aglomeração de políticos dos mais diversos partidos ao redor de FHC e do corpo de Ruth, enquanto ao fundo se ouvia excerto de música gregoriana. Nem Lula nem os ministros deram entrevistas. Do exterior, Fernando Henrique recebeu telefonemas do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e de sua mulher, Hillary, e do rei da Espanha, Juan Carlos, do cardeal Cláudio Hummes, do prefeito da Congregação para o Clero no Vaticano, e do ex-presidente e senador José Sarney, que está em viagem ao exterior.

Também comovido, Serra, amigo de Ruth, chegou ao velório às 17h e deu um beijo em seu rosto. Na saída, elogiou o presidente Lula pelo comparecimento. "Foi um gesto quase que institucional do reconhecimento do valor que a Ruth tinha e que vai continuar tendo através do seu exemplo. Foi um reconhecimento justo e gentil da parte do presidente e de seus ministros", disse. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), chegara mais cedo que Serra, mas não foi embora antes que Lula chegasse. Para ele, poucos casais interagiam de forma tão clara como FHC e Ruth. "Se complementavam, conversavam sem precisar dizer palavras, se entendiam de uma forma diferente, até pelo altíssimo nível intelectual de ambos", disse.

Os principais candidatos a prefeito de São Paulo estiveram no velório. A petista Marta Suplicy chegou acompanhada do marido, Luis Favre. De acordo com ela, ambas participaram de um grupo feminista juntas. "Ela tinha uma consciência clara do papel da mulher e ajudou o marido a perceber isso", disse Marta. O tucano Geraldo Alckmin disse que Ruth foi a grande formuladora da atual rede de proteção social dos país: "Foi ela quem deu início a isso". Paulo Maluf (PP) afirmou que Ruth era uma mulher "espetacular" e que "tinha dentro da alma o desejo de sempre ajudar quem precisava". Kassab não deu entrevistas.

No corredor de acesso a parte interna do velório, cerca de 50 coroas de flores formavam uma longa fileira encostada no muro da Sala São Paulo, com homenagens de setores diversos, como as montadoras Fiat, GM e Scania, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Banco Real e a USP e a Unicamp. Foi na Sala São Paulo, que Ruth Cardoso participou de seu último evento público, ao acompanhar o marido num concerto em homenagem ao príncipe Nahurito, do Japão, na última quinta-feira. O enterro está previsto para hoje de manhã, no cemitério da Consolação.