Título: Efeito da inflação faz Vonpar rever planos
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2008, Empresas, p. B6

A desaceleração do consumo provocada pelo aumento da inflação e comprometimento da renda dos consumidores com o financiamento de bens duráveis como eletrodomésticos, automóveis e imóveis chegou ao setor de bebidas. A Vonpar Refrescos, engarrafadora dos produtos Coca-Cola e distribuidora da cerveja Kaiser, da Femsa Brasil, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, sentiu o golpe no primeiro semestre e reviu de 7% para 4,5% a projeção de crescimento das vendas neste ano, em volume e faturamento, em comparação com 2007, disse o presidente do conselho de administração, Ricardo Vontobel.

O enfraquecimento da demanda também alterou os planos de investimentos da empresa. A linha de refrigerantes em lata que seria instalada neste ano na fábrica de Antônio Carlos, em Santa Catarina, ficará provavelmente para 2010. Hoje o produto distribuído nos dois Estados é envasado em Porto Alegre e é considerado por Vontobel como o ponto com maior potencial de "estrangulamento" na empresa. Mas, no geral, a capacidade instalada da Vonpar, que tem ainda uma unidade em Santo Ângelo (RS), é suficiente para atender a demanda até 2011, considerando pico de consumo no verão e uma taxa de crescimento de 5% ao ano.

Segundo o executivo, de janeiro até agora o crescimento ficou em 3,5%, abaixo da expectativa. Ele ainda espera aumentar em 7% as vendas de julho a dezembro, favorecidas pela base mais baixa de comparação de 2007, quando o segundo semestre teve desempenho inferior ao primeiro, para alcançar os 4,5% no acumulado dos 12 meses. A Vonpar teve receita bruta de R$ 1,185 bilhão em 2007, ante R$ 1,039 bilhão em 2006. O volume vendido chegou a 135 milhões de caixas de 24 garrafas, entre 15% e 20% a mais do que no ano anterior.

Em 2007, a companhia investiu R$ 79 milhões, principalmente no aumento da capacidade instalada de suas três fábricas. Em 2008, o montante deve ficar em R$ 40 milhões, basicamente em marketing, logística e tecnologia. A projeção inicial anunciada no fim de 2007, que incluía a nova linha em Santa Catarina com capacidade para 3 milhões de pacotes com 12 latas por mês, chegava a R$ 50 milhões.

Conforme Vontobel, a Vonpar manteve inalterados os preços dos produtos desde janeiro apesar do aumento dos custos de commodities como açúcar para não comprometer mais as vendas. Segundo ele, outra estratégia adotada desde o ano passado pela Coca-Cola para estimular o consumo e atender diferentes nichos de mercado é o lançamento de novas embalagens, como garrafas de vidro de 200 ml, latas de 250 ml e garrafas PET de 1,5 litro.

Em 2007, apesar do aumento da receita líquida de R$ 694,9 milhões para R$ 798,3 milhões, o lucro líquido da Vonpar caiu de R$ 68,6 milhões para R$ 48,6 milhões ante o exercício anterior, devido ao aumento de 130% nas despesas financeiras líquidas, para R$ 38,4 milhões. Segundo Vontobel, o endividamento total passou de R$ 61,3 milhões para R$ 334,3 milhões (sendo 96% no longo prazo), em função de financiamentos contraídos para cobrir investimentos e a aquisição da participação de 48,95% que a Coca-Cola Indústrias detinha na empresa.

No início do ano, foi feita uma reestruturação com a contratação de Augusto César Parada para a presidência executiva para aproveitar as oportunidades abertas com a constituição da joint-venture Mais, entre a Coca-Cola e os 17 engarrafadores no Brasil. Segundo ele, o segmento ainda é pequeno no Brasil, com 600 milhões de litros por ano ante o consumo de 13 bilhões de litros de refrigerantes, mas tende a crescer nos próximos anos. Com a contratação de Parada, ex-presidente da Norsa, engarrafadora da Coca-Cola no Nordeste, Vontobel ficou na presidência do conselho de administração, do qual fazem parte ainda o pai e fundador da empresa João Jacob e o irmão Rodrigo, os integrantes independentes Luis Fernando Jorge e Sérgio Maia, ex-presidente do grupo Sonae no Brasil.