Título: Chuvas reduzem risco de racionamento
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2008, Brasil, p. A3

As fortes chuvas dos últimos meses diminuíram para menos de 5% o risco de racionamento até o fim de 2010, mas o país ainda não resolveu problemas estruturais de fornecimento e não pode considerar-se livre das ameaças de um déficit de energia em caso de uma nova estiagem prolongada. O diagnóstico é do Instituto Acende Brasil, que reúne os principais investidores privados do setor elétrico e divulgou ontem a quinta edição do "Programa Energia Transparente" - relatório periódico sobre as condições de abastecimento no país.

Simulações da PSR Consultoria, contratada pelo instituto, indicam que os reservatórios de hidrelétricas podem chegar ao fim de dezembro com apenas 42% de sua capacidade máxima, caso se repitam nos próximos meses as mesmas condições hidrológicas de 2007, quando as chuvas escassearam. Esse volume de armazenamento estaria abaixo dos 44% de estoque registrados em dezembro do ano passado. Em caso de uma seca mais severa, faltariam 900 megawatts (MW), já em 2009, para atender uma demanda que cresce 4,7% ao ano, no cenário de referência do governo.

Parece grave, mas isso representa menos de 1% de todo o parque instalado de usinas. O lado ruim do diagnóstico é que, para 2009, já não existe tempo suficiente para erguer novas unidades geradoras. De qualquer forma, graças às chuvas do primeiro semestre, o risco de racionamento caiu significativamente em relação ao boletim divulgado pelo Acende Brasil em fevereiro. Para 2009, a chance de faltar um único megawatt diminuiu de 6% para 2% - dentro da margem de segurança para uma matriz dependente de energia hídrica, como a brasileira, que é de 5%, no máximo. Para 2010, a ameaça caiu de 8,5% para 3,5%.

O instituto reconhece o cenário mais positivo, mas não deixa de apontar algumas distorções importantes. A principal delas, na avaliação do Acende Brasil, é que a estratégia adotada pelo governo para afastar a ameaça de um novo apagão no curto prazo teve custos excessivamente altos.

Cláudio Sales, presidente do instituto, afirmou que o acionamento das térmicas já custou, apenas entre janeiro e abril, R$ 1,037 bilhão aos consumidores livres e cativos. A conta chega por meio do Encargo de Serviços do Sistema (ESS), que paga a diferença entre o preço de mercado da energia elétrica e o custo de operação de usinas ligadas apenas para reforçar a segurança do sistema. Com preço de geração de R$ 150/MWh e R$ 325/MWh, respectivamente, as térmicas a gás natural e óleo combustível ficaram mais tempo do que o necessário em operação, observou. (DR)