Título: Participação de multinacionais em açúcar e álcool deve dobrar no país
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Fonte: Valor Econômico, 25/06/2008, Agronegócios, p. B12

A participação de multinacionais no setor sucroalcooleiro deverá crescer no Brasil nos próximos anos. Cerca de 15% da produção de cana-de-açúcar do país já está nas mãos de capital estrangeiro, segundo cálculos do secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone. A tendência para os próximos anos é de que essa fatia aumente, atraída pelo potencial do etanol, de acordo com analistas de mercado.

Em relatório divulgado ontem, a organização não-governamental britânica Oxfam calcula que a "inundação de investimentos" no setor sucroalcooleiro pode dobrar a participação de usinas sob o comando de estrangeiros no país.

A Oxfam nota que os investimentos estão vindo de todos os lugares, incluindo Índia e China, das grandes companhias do agronegócio, como Cargill, Bunge, ADM e Louis Dreyfus, e de investidores financeiros como Goldman Sachs, Merrill Lynch, George Soros e Carlyle Riverstone. Ontem foi a vez do bilionário britânico Richard Branson se mostrar interessando em investir no etanol brasileiro.

Pouca gente, no entanto, se arriscou a comentar a previsão de Oxfam de que o setor pode atrair até US$ 33 bilhões em investimentos entre 2008 e 2012.

Bertone diz que a estratégia brasileira para criar um mercado mundial de etanol é clara: de um lado, quer atrair investimento externo para desenvolver o setor. De outro, está interessado também em investir na produção de etanol em outros países.

Até agora, o governo brasileiro estimulou produção na África. Um novo passo agora está sendo examinado pela Petrobras, que tem planos para produzir biocombustíveis na Espanha e França, segundo declarações feitas pelo o gerente de desenvolvimento de negócios internacionais de biocombustíveis da estatal, Fernando Cunha.

Para Bertone, não há surpresa. "Com a diminuição dos incentivos na Europa, surgiram boas oportunidades para que a Petrobras explore o potencial da matéria-prima brasileira [cana]."

No caso dos investimentos externos no Brasil, Oxfam, por sua vez, critica as condições de produção do etanol. A ONG cita em seu relatório a Brenco, cujos acionistas são estrangeiros, e que foi autuada em Goiás porque teria empregado funcionários em "situaçoes degradantes".

Em seu relatório intitulado "Outra Verdade Inconveniente", Oxfam procura mostrar que os biocombustiveis não são a resposta para o clima ou a crise de carburantes globalmente. Mas admite que o Brasil produz etanol sustentável. A ONG mostra que o produto pode reduzir 90% das emissões de gases carbono em comparação com o carburante tradicional, enquanto o etanol americano à base de milho só reduz 20%.

A entidade denuncia que os objetivos de utilização de etanol nos Estados Unidos e na União Européia (UE) estariam acelerando a expansão da cana-de-açúcar e uma mudança que considera inevitável no uso da terra, com risco de cultivo em áreas da Amazônia - possibilidade que o governo brasileiro rejeita, uma vez que a cultura está concentrada nas regiões centro-sul do país e Nordeste. A expansão da cana para o Centro-Oeste do país está concentrada no Mato Grosso do Sul e Goiás.