Título: Saques somam R$ 18 bi nas principais categorias no ano
Autor: Cotias,Adriana
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2008, EU & Investimentos, p. D2

O setor de fundos de investimentos caminha para fechar o primeiro semestre com resgates de R$ 18 bilhões nas categorias DI, renda fixa, multimercado e ações. Segundo as estatísticas do site financeiro Fortuna, até 20 de junho, trata-se do pior desempenho desde a crise da marcação a mercado (a atualização de ativos em carteira a preços correntes) de 2002, quando R$ 29 bilhões deixaram o segmento nesse mesmo intervalo. No ano, o saldo total ficou positivo em R$ 35 bilhões graças à captação observada nas carteiras destinadas a estados e municípios (classificados como poder público), que atraíram R$ 31 bilhões; pela distribuição de cotas de fundos de recebíveis, com entradas de R$ 19 bilhões, e, pelo ingresso de R$ 5 bilhões em planos de previdência.

Não por outra razão, são os bancos públicos que se destacam no quesito captação em 2008. O Banco do Brasil lidera o ranking do ano, com R$ 31,4 bilhões. Nas primeiras posições ainda estão o Banco Nossa Caixa (terceiro lugar), com R$ 4,1 bilhões e Caixa Econômica Federal (quinto lugar) com R$ 3,6 bilhões. Entremeando as cinco primeiras posições estão os privados Unibanco (segundo lugar), que atraiu R$ 11,9 bilhões de janeiro a junho, e, o Banco Safra de Investimentos (quarto), com aportes de R$ 3,6 bilhões no período.

"DI e ações até captaram, mas multimercados e renda fixa perderam e, no todo, saiu dinheiro do mercado de fundos", diz o economista Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. "Na alta renda, houve a concorrência dos CDBs e das operações compromissadas, enquanto no varejo o investidor migrou para a poupança, saindo de produtos com taxas de administração alta."

Com a crise de liquidez internacional deflagrada pela inadimplência das hipotecas americanas de alto risco ("subprime"), os bancos brasileiros deslocaram os esforços de captação dos fundos para os CDBs, elevando a remuneração garantida aos aplicadores. Foi a forma encontrada pelas instituições, especialmente as privadas, para dar suporte à vigorosa oferta de crédito. De janeiro a maio, o volume total emprestado pelo sistema financeiro atingiu R$ 1,044 trilhão, um crescimento de 32,4% em relação ao mesmo intervalo de 2007, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC).

Nos bancos públicos, a necessidade de fazer caixa para ampliar a base de empréstimos é menos premente, já que as instituições detêm, historicamente, boa parcela dos ativos em títulos públicos federais. São posições que se transformam rapidamente em dinheiro, explica o diretor de gestão de recursos de terceiros do Nossa Caixa, Joaquim Elói Cirne de Toledo. "Nós também temos uma base muito forte de poupança e depósitos judiciais, e, portanto não há esse conflito ou qualquer necessidade de captação adicional para expandir o crédito com vigor vontade."

Do patrimônio de R$ 24,3 bilhões administrados pela área de gestão do banco estadual, cerca de R$ 6,3 bilhões são provenientes do varejo. O grosso está em carteiras que reúnem recursos do Tesouro do Estado de São Paulo, governos e estatais. Nos portfólios disponíveis na rede, a captação no ano chega a R$ 600 milhões. "O banco é muito forte na categoria DI e, na turbulência, os investidores saíram dos fundos mais arriscados como os multimercados", acrescenta Toledo.

No ano, até o dia 20, os multimercados já perderam R$ 24,9 bilhões. Os DIs atraíram R$ 7,8 bilhões, enquanto nas carteiras de renda fixa os resgates superaram as aplicações em R$ 3,7 bilhões. Os portfólios de ações, apesar de todo o revés, esboçam saldo positivo de R$ 3,3 bilhões.

Em junho, o Itaú é que aparece como um dos grandes captadores do setor de fundos, com R$ 6,3 bilhões. Os números foram particularmente inflados pelos recursos que ingressaram no FI Multimercado Crédito Privado OGX 63, um fundo exclusivo da OGX Petróleo e Gás, administrado pelo banco. Dos R$ 6,7 bilhões levantados pela empresa na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) concluída na semana passada, R$ 6,49 bilhões foram depositados nessa carteira. Pelo que consta nas notas explicativas referentes ao balanço do primeiro trimestre, no fim de março, o portfólio integrava a conta de disponibilidades da OGX, tinha um saldo de R$ 795,5 milhões, distribuído em títulos de renda fixa.