Título: Ação da estatal pode sofrer na bolsa com mudança no modelo de exploração
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2008, Brasil, p. A5

A notícia de que a Petrobras ficará de fora da exploração das novas reservas, ou pelo menos terá menor rentabilidade em sua exploração, é ruim para os papéis da empresa e para os cerca de 700 mil investidores pessoa física da petrolífera, incluindo fundos e diretamente em ações. Desde o ano passado, boa parte do ganho com ações preferenciais (PN, sem voto) da estatal - 81,62% em 12 meses até ontem, para um Ibovespa de 18,75% - veio das notícias de novas descobertas, o que garantiu que seu retorno superasse a alta dos preços do barril do petróleo (ver gráfico). O movimento só se reverteu mais recentemente, devido à turbulência externa, que reduziu a demanda por ações em geral e fez o papel cair 8,37% somente neste mês. No ano, o papel ainda está em alta, de 2,23%.

Em outubro, as primeiras informações sobre a descoberta de Tupi já provocaram um descolamento em relação ao petróleo, movimento que se acentuou em novembro com o anúncio oficial do campo. Depois, a cada nova informação sobre descobertas, o papel voltava a disparar.

Muito dessa alta foi baseada na especulação pura e simples, pois até agora não se sabe exatamente o tamanho das reservas nem seu custo de exploração. Mas, para o mercado, que olha no longo prazo, foi o suficiente para valorizar o papel. A lógica é simples: com o petróleo batendo em US$ 140 o barril, o consumo em alta e a produção mundial estável ou em queda nos próximos anos, qualquer nova jazida se torna inestimável para uma empresa petrolífera.

O impacto da mudança nas regras de exploração sobre o papel só não será maior porque a maioria dos analistas ainda não tinha incluído em suas análises os novos campos além de Tupi, pela falta de informações seguras sobre seu tamanho. Muitos analistas já levavam em conta a possibilidade também de o governo mudar o modelo de concessões para exploração das novas jazidas, por isso deixaram de fora as descobertas mais recentes.

O que pode ser positivo é que a definição do governo de que a mudança no modelo valerá para os outros campos, e que Tupi continuará com a Petrobras. Isso dará mais segurança para se fazer uma projeção de ganhos para a empresa.

Mesmo sem considerar todas as novas descobertas, as projeções dos analistas para Petrobras já são bastante otimistas. Segundo dados da Thomson One Analytics, a média das projeções de preço justo dos analistas de mercado de 15 instituições para a ação PN de Petrobras é de R$ 60,50, para um fechamento ontem de R$ 44,90, o que representaria um potencial de alta de 34,74%. Cinco instituições recomendam "forte compra", nove "compra" e apenas uma "manter" para o papel.

Uma das mais recentes mudanças de recomendação foi da corretora Brascan, que divulgou relatório ontem aumentando o preço alvo de Petrobras de R$ 62,10 para R$ 65,10 tendo em vista a obtenção do grau de investimento pelo Brasil e a revisão de expectativas para o petróleo. A Brascan estima o barril em US$ 130 na média deste ano, US$ 122 em 2009 e US$ 115 em 2010. Só em 2012 o barril cairia para menos de US$ 100. A recomendação da corretora, de compra, também se baseia, em boa parte, nos novos campos. E leva em conta a expectativa de crescimento da produção da Petrobras e a recomposição das reservas "principalmente através das recentes descobertas e possíveis novas na área próxima a Tupi", informa o texto do relatório.