Título: Ruth Cardoso é enterrada em São Paulo
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Fonte: Valor Econômico, 27/06/2008, Política, p. A9

Ruth Cardoso foi enterrada ontem no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Às 10h30, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso despediu-se de sua mulher, com quem viveu por 55 anos.

Antes de a lápide ser colocada, Paulo Henrique, o filho mais velho, deixou sob a lápide uma bonequinha de pano do Comunitas, organização não-governamental que deu continuidade ao Comunidade Solidária, programa social que foi comandado pela socióloga. A boneca, costurada por artesãs do projeto Artesanato Solidário, ficava sobre a mesa de Ruth em seu escritório.

O cortejo fúnebre percorreu um caminho repleto de coroas de flores, colocadas da entrada do cemitério da Consolação até o jazigo. Sempre ao lado dos três filhos - Beatriz, a caçula chegou na noite de quarta-feira do exterior - o ex-presidente estava muito abatido e recebeu o apoio de familiares, amigos e correligionários do partido.

O corpo foi levado da Sala São Paulo, onde foi velado em um carro funerário da prefeitura. O caixão - coberto com as bandeiras do Brasil e de Araraquara - foi segurado por policiais militares. Ruth teve homenagem da banda do Regimento da Cavalaria Nove de Julho. Quando o caixão foi posto no solo, o senador Eduardo Suplicy (PT) não se conteve e gritou: "É um exemplo para o Brasil!". Foi seguido por uma salva de palmas.

Na despedida, a família colocou rosas brancas no túmulo, já repleto de margaridas e crisântemos brancos. O jazigo foi comprado pelo casal exatamente um ano antes do enterro, em 26 de junho de 2007. É no Cemitério da Consolação que estão enterrados os presidentes Washington Luís e Campos Salles.

O governador de São Paulo, José Serra, era um dos mais emocionados. Ele ficou o tempo todo ao lado de FHC e o confortou. Diferente do velório na quarta-feira, que reuniu políticos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e demais petistas, o enterro só teve a presença de políticos mais ligados ligados ao governo FHC.

Amigo bem próximo da família, o ex-ministro da Justiça José Gregori destacou a discrição e a inteligência de Ruth. "Ela era uma pessoa que não fazia ruído. As qualidades dela iam aparecendo aos poucos", disse. Gregori destacou o papel que a socióloga teve no governo federal. "Companheira do presidente, foi uma pessoa que influiu, sem interferências mas sempre com a cabeça privilegiada que ela tinha, com poder de análise."

O ex-ministro de Relações Exteriores Celso Lafer destacou a dignidade, a simplicidade e a inteligência, "além do amplo conhecimento do Brasil". "Nas ciências sociais, ela teve uma percepção aguda sobre os movimentos sociais, as reivindicações de gênero. Ela conciliava pensamento e ação." O ex-ministro da Cultura Francisco Weffort lembrou da produção acadêmica de Ruth e disse que isso a destacou no governo.

Entre os presentes ao enterro, uma das exceções petistas foi o senador Eduardo Suplicy. Disse sempre ter percebido na ex-primeira-dama "uma pessoa com extraordinário equilíbrio e firmeza". "Muitas vezes ela ajudava FHC a discernir melhor sobre coisas por causa da sua percepção e compreensão das coisas. " Ele a elogiou pelo pioneirismo em programas sociais.

O ex-governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab, candidatos à Prefeitura de São Paulo, foram discretos na cerimônia e saíram sem falar com a imprensa, assim como Serra. Estiveram presentes, entre outros, os senadores Álvaro Dias e Arthur Virgílio, o deputado Paulo Renato e a vice de Kassab, Alda Marco Antônio. No velório, pela manhã, estiveram ainda o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, os governador de Minas, Aécio Neves, e de Roraima, José de Anchieta Filho; o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz; o deputado Roberto Jefferson; o ex-ministro da agricultura, Luiz Fernando Furlan.