Título: Colômbia corta gasto público para conter demanda e inflação
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Fonte: Valor Econômico, 27/06/2008, Internacional, p. A11
A Colômbia anunciou um corte de gastos públicos de US$ 860 milhões, como parte de seu esforço para controlar a alta da inflação sem elevar muito os juros e para controlar a alta do peso ante o dólar. O Orçamento total colombiano aprovado pelo Congresso para este ano foi de US$ 70 bilhões.
O índice de preços ao consumidor chegou a 6,39% anualizados em maio, o mais alto nível do ano, puxado sobretudo pela escalada dos alimentos: 9,73%. Em 2007, o IPC da Colômbia foi de 5,69%.
Economistas colombianos vinham pedindo ao governo que cortasse os gastos públicos para diminuir a necessidade de financiamento e, assim, contribuir para a desaceleração da demanda interna - um dos motores da inflação.
Vários economistas brasileiros também vêm recomendando que o Brasil promova corte nos gastos públicos, para aliviar a pressão sobre os juros.
Na semana passada, o Banco da República da Colômbia (BC colombiano) manteve os juros em 9,75%. O presidente do BC, José Darío Uribe Escobar, disse entretanto que, "se as expectativas de inflação começarem a afetar os preços e os salários, esta postura [de manutenção dos juros] poderá ser revisada".
O anúncio do corte de gastos ocorre depois de ter fracassado a iniciativa do governo de acordar um congelamento de preços de produtos alimentícios e serviços públicos. Governo, sindicatos e produtores se reuniram nos últimos dias para tentar esboçar um acordo, como o que foi conseguido no México, mas não acabaram não chegando a um consenso.
Os produtores rurais dizem que não estão repassando os custos de energia para o preços de seus produtos, mas que a situação está se tornando insustentável. Os sindicatos queriam, junto com a questão dos preços, discutir reformas no mercado de trabalho, mas o governo não teria sido flexível, dizem analistas colombianos.
Pelo lado do câmbio, o governo disse que o objetivo do corte de gastos "é contribuir para o processo de restabelecimento de uma taxa de câmbio competitiva, que proteja o emprego dos setores de mão-de-obra intensiva". O peso colombiano valorizou-se 11% frente ao dólar em 2007. Até junho de 2008, a valorização já alcançou 22%, alcançando o maior patamar em nove anos.
O economista Alejandro Gaviria, da Universidade dos Andes, achou a medida acanhadas. Para ele, o corte de gastos "é um excelente sinal qualitativo, mas não é algo importante pelo lado quantitativo, por causa do montante".
Rafael Mejía, presidente da Sociedade dos Agricultores da Colômbia, disse que a medida é "magnífica" e que agora espera que "o BC responda aos anúncios do governo e baixe os juros".
Ontem, o presidente Álvaro Uribe disse que o corte no Orçamento não vai afetar a política social, os repasses para a Previdência nem os investimentos em projetos de infra-estrutura já em andamento.
Para o ano que vem, Uribe afirmou planejar um corte de gastos quatro vezes maior.