Título: AES assume AgCert e amplia seu portfólio de carbono
Autor: Barros , Bettina
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2008, Agronegócios, p. B11

A AES Corporation, empresa global de energia que no Brasil é controladora da Eletropaulo, acaba de fincar o pé no mercado de créditos de carbono voltado para a suinocultura. A empresa assumiu na semana passada o controle da irlandesa AgCert, recentemente às voltas com problemas financeiros.

A AgCert torna-se agora subsidiária e importante ferramenta de atuação da AES na área ambiental, na qual a empresa já aposta muitas de suas fichas. Há três anos, a AES iniciou um braço para soluções climáticas que prevê investimentos em projetos em países em desenvolvimento para a redução de 34 milhões de toneladas por ano de gases de efeito estufa até 2012.

"A redução de carbono é uma das nossas prioridades", afirmou Didier Rotseart, vice-presidente da divisão de Soluções Climáticas da AES e agora novo CEO da AgCert. "Nossa ambição é sermos líderes no mercado de carbono. Mas não queremos ser só traders. Queremos gerenciar e implementar diretamente os projetos", acrescentou.

Com a transferência de controle, a AES herda da AgCert cerca de 80 projetos em granjas com suínos no Brasil e México, que respondem juntos por cerca de 1,4 milhão de toneladas de carbono por ano. Esse volume será somado ao pipeline da AES de 19 milhões de toneladas por ano e a outros 9 milhões de toneladas por ano já contratados.

Em entrevista por telefone ao Valor da sede da AES, em Arlington, Virgínia, Rotseart afirmou que a incorporação da AgCert é resultado de um "entendimento" com os credores, intermediado por autoridades irlandesas num processo chamado de "examinership", para evitar a liquidação de empresas naquele país. "Houve uma reestruturação financeira e comercial, administrada pela Alta Corte da Irlanda. A AES não colocou dinheiro. Apenas convertemos a dívida em 100% do capital", disse ele. "Não mudará a estrutura comercial ou o relacionamento com os clientes".

O executivo não revelou os detalhes que culminaram com a incorporação nem de que forma os credores da AgCert - na maioria empresas do setor elétrico - teriam sido recompensados. "Tudo foi resolvido, não há mais credores ou dívida a ser paga", frisou o CEO, que não quis detalhar a afirmação.

Listada em Londres até o início deste ano, a AgCert informou à bolsa em dezembro de 2007 que não teria disponíveis os cerca de 7,2 milhões de créditos de carbono vendidos no mercado com prazo de entrega neste ano. A empresa tem apenas 1,2 milhão de créditos já emitidos pelo Conselho Executivo da ONU, que rege esse mercado.

Os projetos de suinocultura estão inseridos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Kyoto, pelo qual países ricos compram créditos de projetos limpos em países em desenvolvimento para compensar suas próprias emissões. Cada tonelada de gás-estufa que deixa de ser jogada na atmosfera equivale a um crédito comercializado no mercado internacional.

Na suinocultura, os créditos são gerados com a queima do metano emitido pelos dejetos dos animais.

O fator detonador da crise teria sido a alteração na metodologia da ONU para a contagem do volume de gases efetivamente queimado - que corresponde aos créditos. "Houve intervenções na metodologia que reduziram o volume da produção de CO2 entregue. Mas outras pessoas envolvidas nessa atividade, no Brasil e no mundo, também sofreram", diz Rotseart.

Agora, diz o executivo, é olhar para frente. O controle da empresa irlandesa dá mais fôlego ao braço ambiental da AES e está alinhado com a estratégia global da empresa de crescimento no setor de carbono. "A AgCert reforçará a atuação da AES no setor", diz Rotseart. "Ao mesmo tempo, a chegada [da AES, com receita de US$ 13,6 bilhões em 2007] dá estabilidade, agrega experiências e reduz as limitações da própria AgCert".

E poderá até mesmo resultar em novas frentes de ação. Além dos cerca de 370 clientes (granjas) no Brasil, Rotseart vê oportunidades de desenvolvimento de projetos aptos a gerar créditos nos aterros sanitários e efluentes industriais. "É um país importante para nós".

Poucas semanas antes da consolidação do controle da AgCert, a AES Corporation já havia adquirido um projeto de energia gerado por um aterro sanitário em Nejapa, El Salvador, capaz de gerar 400 mil toneladas por ano de créditos de carbono ao longo de 20 anos.

Nos anos 80, iniciou ações voluntárias para combater o aquecimento ao financiar o plantio de 50 milhões de árvores na América Latina. No Brasil iniciou o projeto de reflorestamento de matas ciliares e de reservatórios de água que geram energia da AES Tietê, em SP.