Título: Iberia ajusta-se ao preço do petróleo
Autor: Malta , Cynthia
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2008, Empresas, p. B4

A Iberia, a maior companhia aérea da Espanha, orgulha-se, como boa espanhola, de suas conquistas. Desde 1995 dá lucro todos os anos, suas ações valorizaram-se quase 80% desde que começou a ser cotada na Bolsa de Madri, em 2001, tem ? 2,5 bilhões de euros em caixa e é considerada a mais pontual da Europa. Mas diante de altas recordes do petróleo e das incertezas na economia mundial, a estratégia é apertar o cinto, olhar com lupa o comportamento da demanda e comprar aviões mais econômicos.

"A indústria aérea vive um momento mais que difícil", diz a diretora internacional de vendas da Iberia, Silvia Cairo, que comanda 14 gerências ao redor do mundo, incluída a do Brasil. A alta do petróleo vem acompanhada de uma desaceleração da economia mundial e essa combinação pode ser fatal para boa parte do setor. Ela, na última sexta-feira, relatava, impressionada, mas com voz firme, dados de um relatório sobre o mercado americano. "Com o barril a US$ 130, as dez maiores companhias aéreas dos Estados Unidos terão um aumento de gasto de US$ 25 bilhões neste ano. O petróleo já equivale a 25% do gasto total de algumas empresas, mas pode chegar a mais de 40% em outras". Silvia não disse qual é a fatia do petróleo na Iberia, mas responde que a meta de reduzir as despesas em 12% neste ano será cumprida, "excluindo-se o petróleo". No fim da tarde de sexta-feira, o barril estava sendo negociado acima de US$ 142.

A Iberia vai antecipar em um ano a troca de aeronaves mais antigas por outras mais modernas, que gastem menos petróleo. Onze aviões do modelo MD 89 vão parar de voar neste ano - seus substitutos serão definidos até dezembro. A frota, de 201 aviões, tem idade média de pouco mais de sete anos.

Na opinião de Silvia, compartilhada por outros especialistas, "haverá muitas falências e fusões" no setor aéreo a partir de agora. Só nos primeiros quatro meses deste ano, lembra, 11 companhias aéreas dos EUA decretaram concordata. "Mas a Iberia está em situação muito melhor. Temos um balanço saneado", diz ela. Em 2007 a empresa registrou lucro líquido de ? 327,6 milhões de euros e uma receita de ? 5,5 bilhões de euros. E também foi no ano passado que a Iberia despertou o apetite da British Airways, que tentou comprá-la aliando-se ao Texas Pacific Group, dos EUA. O plano fracassou e de alvo de aquisições, a Iberia, que tem o poderoso banco estatal Caja Madrid como maior acionista, passou a declarar-se compradora. Tentou comprar a Spanair, mas não chegou a um acordo com os donos, a escandinava SAS. Há um mês retirou a oferta. Com o petróleo em US$ 140 o barril, a Iberia opta pela cautela. "Mas continuamos interessados".

A Iberia, diz Silvia, ainda não suspendeu nenhum vôo, mas acompanha a demanda muito de perto. Se certa rota começa a registrar queda no número de passageiros, a ordem é trocar a aeronave por uma menor. Os EUA, que têm enviado menos turistas para a Espanha nos últimos meses, são o maior mercado da Iberia, seguidos de Argentina, imersa em nova crise econômica, e Brasil, para onde voa 19 vezes na semana.

A operação da Iberia no Brasil é lucrativa e tende a crescer, diz o diretor comercial Andres Lorenzetti, responsável pela empresa no país. O plano é abrir um vôo diário, entre Rio e Madri, a partir de 1º de novembro e em setembro começar a voar uma vez por semana de Madri a Salvador, sem escalas. Este último será feito em conjunto com a Iberworld, companhia espanhola de vôos charters.

O controle de despesas - ponto importante do próximo plano trienal, de 2009 a 2011, que ainda está sendo elaborado e tem anúncio estimado para setembro - abarca desde usar os dois lados do papel para imprimir textos até enviar relatórios aos pilotos com dados sobre o desempenho no que se refere a consumo de combustível. Eles não são punidos se gastam mais, mas o simples envio do relatório, com a informação do que seria a melhor performance, ajuda a criar a cultura da economia. A Iberia consegue pagar bem menos de US$ 130 o barril por quase metade do que consome, devido a operações de "hedge" (proteção), contratadas quando o petróleo estava mais barato. Mas há companhias em melhor situação - a American Airlines tem mais de 90% do seu consumo de petróleo "hedgeado" e a Air France terá 80% em 2009.

A editora viajou a convite do governo espanhol e da Iberia