Título: Fundos terão empréstimo para oferta da Vale
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Fonte: Valor Econômico, 30/06/2008, EU & Investimentos, p. D1
Os quatro fundos de pensão que participam do controle acionário da Vale definem hoje a estratégia conjunta a ser seguida no aumento de capital da mineradora, prevista para o fim de julho.
É certo que Previ, Petros, Funcef e Funcesp, reunidos na Litel, dona de 58% da holding Valepar, que tem 32% do capital total da Vale, vão acompanhar os demais controladores na emissão primária de ações de US$ 14 bilhões. Falta definir quanto vão colocar do próprio bolso e qual será a parcela financiada pelo banco de investimentos Credit Suisse, coordenador da operação.
Segundo fontes dos fundos de pensão, a Litel deverá desembolsar no negócio US$ 3,5 bilhões, dos quais US$ 2,8 bilhões devem ser aportados pela Previ, que detém 80,62% na Litel. Parte desse dinheiro será financiado.
Existe uma estruturação financeira do Credit Suisse para apoiar os controladores e assim permitir que a Valepar acompanhe o aumento de capital. No total, a Valepar vai desembolsar US$ 4,5 bilhões na operação para manter inalteradas as participações no bloco de controle da Vale.
Ao participar da oferta, a Previ irá ampliar a participação da Vale no patrimônio total da fundação. Em abril, a mineradora representava R$ 32,4 bilhões, ou 23,6% do patrimônio total da Previ, que era de R$ 136,9 bilhões. Ao confirmar a subscrição das ações na oferta, a Previ irá ampliar a presença da Vale nos investimentos totais do fundo de pensão para cerca de 26%, considerando-se o mesmo patrimônio registrado em abril.
O presidente da Previ, Sérgio Rosa, admitiu recentemente que a oferta de ações da Vale levará a fundação a ter, indiretamente, mais capital investido na mineradora, o que vai acentuar um problema de "desenquadramento" em relação ao determinado em lei. A legislação diz que a fundação pode ter, no máximo, 5% do patrimônio em ações de uma mesma empresa. Mas se essa empresa pertencer a um índice do mercado de ações, caso da Vale, o fundo de pensão pode comprometer até 10%.
Rosa admite que não há pressa em tomar qualquer decisão em relação a esse problema do desenquadramento na Vale. Lembra que a Previ tem um plano de desinvestimento na área de renda variável para ser realizado até 2012. Em abril, o portfólio de ações da Previ somava R$ 92,6 bilhões, o equivalente a 67,6% do patrimônio total.
Pelos termos do plano de enquadramento acertado, de acordo com as regras da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), a Previ deveria chegar a 2012 comprometendo 50% do seu patrimônio com ações de empresas.
No ano passado, esse percentual ficou em 65%, mesmo com a Previ vendendo R$ 5,5 bilhões de sua carteira. A meta é continuar a reduzir seu portfólio de ações nos mesmos valores de 2007.
O próprio Rosa admite que no final das contas o valor que for pago pelas novas ações da Vale será somado à fatia de R$ 32,4 bilhões no patrimônio da fundação. "Mas estamos buscando uma operação que possa diferir isso no tempo", disse ao Valor.
A questão do desenquadramento da Previ é vista com uma certa flexibilidade pela SPC, avalia fonte dos fundos. O interlocutor explica que houve, no caso da Previ, um "desenquadramento passivo" da participação da Vale no seu patrimônio por conta da valorização da mineradora após a privatização da companhia. Na época da venda da Vale, em 1997, a Previ colocou R$ 1,5 bilhão no negócio, o que representava menos de 10% do seu patrimônio.
Atualmente, nesse cenário político com uma dose adicional de nacionalismo será mais difícil a Previ vender ações da Vale, avalia a fonte. "Se ela se 'desenquadrar' da Vale isso vai mexer com o mercado todo", afirmou.
A oferta da Vale foi anunciada no dia 10 e, desde então, as ações preferenciais caíram 7%, para R$ 47,06, na sexta-feira. As ações ordinárias tiveram uma retração de 6%, para R$ 56,23. Os dois papéis chegaram às suas máximas históricas em meados de maio - R$ 59 e R$ 72, respectivamente.