Título: Inflação começa a preocupar, mas não afeta propularidade de Lula
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2008, Política, p. A6
Pesquisa realizada pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra aumento da preocupação dos brasileiros com o processo inflacionário e seus efeitos na taxa de desemprego e na renda pessoal. Como reflexo dessa percepção, caiu a aprovação das políticas específicas do governo de combate à inflação (de 51% para 41%) e ao desemprego (de 55% para 52%) e em relação à taxa de juros (de 39% para 31%).
Além da queda na aprovação, aumentou o número de pessoas que desaprovam a atuação do governo nas mesmas áreas: combate à inflação (a desaprovação era de 43% em março e foi para 53% em junho) e ao desemprego (41% para 45%) e tratamento da taxa de juros (53% para 61%). A pesquisa também registrou insatisfação dos brasileiros em relação aos impostos: a aprovação da política para o setor caiu de 35% para 31% e a desaprovação passou de 60% para 63%.
O aumento da insatisfação da população em relação aos impostos pode ser associado ao movimento no Congresso da base governista para recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) com o nome de Contribuição Social para a Saúde (CSS), na avaliação do consultor Amauri Teixeira, da MCI-Estratégia, consultoria contratada pela CNI para analisar a pesquisa. Entre os assuntos do noticiário mais lembrados espontaneamente pelos entrevistados estão a tentativa de criação da CSS, o aumento de preços e a elevação dos juros.
Apesar desse aparente pessimismo, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não mostra abalos - embora também não tenha havido elevação. Segundo a CNI/Ibope, 58% avaliam positivamente o governo ("ótimo" ou "bom"). Esse índice se mantém desde março, quando foi realizada a rodada anterior da pesquisa, e é recorde de Lula neste mandato.
De acordo com a pesquisa, é alto o índice de brasileiros que aprovam a maneira de governar do presidente (72%), mas, em relação a março, há variação negativa de três pontos percentuais, movimento que está dentro da margem de erro. Isso porque a aprovação na rodada anterior era de 73% e a desaprovação, 22%. Agora, esses percentuais são 72% e 24%, respectivamente. O índice de pessoas que dizem confiar em Lula é de 68% (mesmo de março).
Para o diretor de Relações Institucionais da CNI, Marco Antonio Guarita, a visão pessimista da inflação ainda não foi suficiente para abater Lula porque os índices econômicos continuam positivos e a população ainda não sente os efeitos negativos da inflação. "Houve mudança na expectativa das pessoas, mas elas ainda estão satisfeitas com os ganhos obtidos. A percepção pessimista já está impactando políticas específicas do setor, mas não impactou ainda a política geral do governo", disse. Um dado da pesquisa que parece confirmar a opinião de Guarita é a percepção de 80% dos brasileiros de que o ano de 2008 continua sendo positivo ("muito bom" ou "bom"). Em março, o percentual de entrevistados com essa opinião era de 80%, numa oscilação dentro da margem de erro.
Entre os 2.002 entrevistados no período de 20 a 23 de junho, em 141 municípios, 65% disseram acreditar que a inflação vai aumentar nos próximos seis meses e apenas 12%, que haverá redução dos preços. Em março, na rodada anterior da Cílio, o percentual daqueles que acreditavam no aumento da inflação era de 51%. Houve, portanto, aumento de dez pontos percentuais entre os mais pessimistas.
Para a MCI-Estratégia, consultoria contratada pela CNI para analisar a pesquisa, a expectativa de aumento da inflação "contaminou" a avaliação dos brasileiros em relação à taxa de desemprego e à renda pessoal. Em março, 42% dos entrevistados disseram que o desemprego aumentaria. Esse índice subiu para 52%. Em relação à renda pessoal, 42% das pessoas entrevistadas em março achavam que ela aumentaria. Agora, apenas 37% apostam na elevação da renda pessoal.
A avaliação menos favorável do governo Lula é do segmento de entrevistados que recebem mais de dez salários mínimos. Em março, 47% desse grupo consideravam o governo "ótimo" ou "bom" e 16%, "ruim" ou "péssimo". Essa diferença caiu na rodada de junho, com a redução do primeiro percentual para 39% (dos que consideram o governo "ótimo" ou "bom") e o aumento do segundo, para 26% ("ruim" ou "péssimo").
A 23ª pesquisa da CNI/Ibope mostra queda mais expressiva da avaliação do governo entre pessoas com renda familiar superior a dez salários mínimos (variação negativa de 18 pontos percentuais), habitantes das regiões Norte e Centro-Oeste (redução de 13 pontos percentuais) e jovens de 16 a 24 anos (menos sete pontos percentuais).