Título: Alta de petróleo faz CEOs e Opep trocarem acusações
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Fonte: Valor Econômico, 01/07/2008, Internacional, p. A11

Em meio a sucessivos recordes nos preços do petróleo, autoridades dos países exportadores e presidentes das maiores petroleiras do mundo entraram em uma temporada de acusações recíprocas. Os chefes das petroleiras multinacionais rebateram as reclamações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de que os altos preços do petróleo estão sendo puxados pelos especuladores e culparam a falta de oferta. A Opep, por sua vez, disse que a oferta supre bem a demanda e que uma solução para as altas seria, por exemplo, os EUA aumentarem seus juros.

Uma alta dos juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano) poderia fazer com que os especuladores abandonassem o mercado petrolífero, disse o secretário-geral da Opep, Abdalla Salem el Badri. "As pessoas irão investir em outra coisa" se o Fed elevar sua taxa, disse El Badri. "Tenho certeza de que o preço cairia."

Já os executivos-chefes da Royal Dutch Shell, da BP e da espanhola Repsol YPF disseram, durante o maior encontro do setor nos últimos três anos, que as restrições sobre onde podem investir e os altos impostos impedem que ampliem a oferta no nível que gostariam.

O argumento de que a compra de contratos futuros de petróleo por investidores está por trás dos quatro anos de alta que culminaram ontem com o petróleo chegando ao recorde de mais de US$ 143 por barril é um "mito", segundo o CEO da BP, Tony Hayward. O problema é que o crescimento da oferta não iguala a expansão da demanda, afirma. "A oferta não está respondendo adequadamente ao aumento na demanda", disse aos presentes no Congresso Mundial de Petróleo.

O CEO da Repsol, Antonio Brufau, concordou. "Os fundamentos (econômicos) do setor são as razões para esses preços."

Jeroen van der Veer, CEO da Shell, ressaltou que há oferta suficiente para atender a atual demanda, mas que o mercado está estreito e que muitos usuários temem, com razão, de que a provisão futura não atenderá a procura. "Não acreditamos que os mercados financeiros estejam encabeçando a especulação; provavelmente, seguem o que outras pessoas temem que sejam os fundamentos de longo prazo", disse Van der Veer. "Não acho que possamos culpar a especulação pelo preço do petróleo."

Hayward observou que o motivo por trás o crescimento anêmico da oferta é político e não geológico. "Os problemas estão acima da terra, e não abaixo dela."

Brufau destacou que a ampla maioria das reservas mundiais de petróleo está em países que restringiram investimentos petrolíferos internacionais, como Arábia Saudita e Kuait. Apesar do declínio na capacidade ociosa de produção, a Opep argumenta que a oferta é ampla e que investe o suficiente para assegurar que os consumidores terão no futuro o petróleo que precisam.

Analistas ressaltam que enquanto as grandes petrolíferas, na esperança de elevar a produção e os lucros, tendem a ampliar os investimentos quando os preços do petróleo estão em alta, as petrolíferas estatais muitas vezes não respondem aos sinais do mercado. Seus investimentos são guiados por outras prioridades, como a necessidade de dinheiro dos governos no curto prazo, a maximização dos retornos no longo prazo e a possibilidade de administrar o preço do petróleo.

Os altos impostos também limitaram o investimento, de acordo com os executivos. Com a alta dos preços do petróleo nos últimos anos, os países produtores, da Rússia à Venezuela, elevaram de forma acentuada os impostos sobre o petróleo.

Ontem, o barril de West Texas Intermediate (designação do "light sweet crude" negociado nos EUA) para entrega em agosto terminou em queda de US$ 0,21 em relação a sexta-feira, cotado a US$ 140. Em Londres, o barril do tipo Brent do mar do Norte para entrega em agosto fechou negociado a US$ 139,83 (queda de US$ 0,48 em relação a sexta).