Título: Crédito do BB vai a R$ 200 bi, o triplo de 2002
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2008, Finanças, p. C10

Às vésperas de completar 200 anos, o Banco do Brasil anuncia hoje que as suas operações de crédito chegaram a R$ 200 bilhões em maio, mais do que o triplo dos valores registrados em 2002. O banco, que no ano passado ficou atrás dos seus principais concorrentes, voltou a ganhar participação de mercado nos cinco primeiros meses de 2008. Nas suas contas, o BB usa um conceito ampliado de carteira de crédito, que considera não apenas os empréstimos feitos dentro do país (R$ 178 bilhões), mas também o crédito concedido nas suas agências no exterior (R$ 10 bilhões) e as garantias prestadas a clientes (R$ 12 bilhões).

O forte crescimento da carteira de crédito do BB nos últimos anos reflete, em grande parte, o clima econômico favorável, com juros em queda e aumento de emprego, que têm permitido um dos mais longos ciclos de expansão de crédito da história recente. Mas também é resultado de um rearranjo na estratégia em fins de 2005, com reforço nas operações com cartões e a entrada nos mercados de financiamentos de veículos e imobiliário. Hoje, são feitas cerca de 120 mil operações de crédito por dia, 31 mil por meio de canais totalmente automáticos, como terminais de auto-atendimento, e 83 mil massificadas, com intervenção da agência apenas para liberação do crédito. Outras seis mil operações envolvem a análise, despacho e contratação individualizados.

Diagnóstico feito à época mostrou que, em algumas áreas tradicionais, como crédito agrícola e financiamento de investimentos, o BB estava à frente dos concorrentes. Mas o banco perdia mercado porque seus principais competidores exploravam com mais agilidade nichos que se expandem rapidamente, como os financiamentos dentro de lojas de varejo.

Dois anos depois da mudança de nova estratégia, o BB continua à frente nos segmentos mais tradicionais. No crédito rural, por exemplo, cujos empréstimos correspondem a 33% da carteira total do BB, o volume de empréstimos aumentou 16% nos cinco primeiros anos deste ano, o dobro dos 8% observados no sistema bancário como um todo. O BB segue à frente também nos financiamentos a investimentos, cujos empréstimos concedidos de janeiro a maio somam R$ 10 bilhões. No primeiro quadrimestre, o banco foi líder na concessão de repasses do BNDES. O BB descobriu antes que os demais bancos que as linhas de financiamento de investimento ajudam a fidelizar clientes pessoas jurídicas. As linhas de comércio exterior, que nos últimos anos foram mantidas mesmo em períodos de crise externa, também estreitam relacionamento com empresas.

O ponto fraco eram os financiamentos a pessoas físicas. Nos últimos anos, havia sido criada no banco a cultura de que os financiamentos deviam ser feitos dentro das agências e nos canais de auto-atendimento, como telefones, internet e caixas automáticos. A estratégia era explorar a própria base de clientes, em vez de assumir riscos maiores na concessão de crédito ao segmento de não clientes. Desde o inicio de operação, a carteira de financiamentos de veículos vem crescendo a taxas elevadas. O conjunto de financiamentos cresceu 150% nos 12 meses encerrados em maio e 37% no período de janeiro a maio. Mas, em termos absolutos, a carteira soma apenas R$ 4 bilhões, valor acanhado para um banco das dimensões do BB. A carteira de veículos do Itaú, é de R$ 32 bilhões, e a do Bradesco, de R$ 26 bilhões.

Outro passo estratégico importante foi a entrada nos financiamentos imobiliários. Apenas recentemente o BC concedeu autorização formal para as operações, por isso a carteira gerada dentro do banco é de apenas R$ 300 milhões, contando com parceria firmada com a Poupex. É muito pouco para uma carteira imobiliária que, no conjunto dos bancos, soma R$ 48 bilhões. A distância em relação aos demais bancos de varejo é vista como uma oportunidade. "Temos um enorme potencial de crescimento", afirma Luiz Gustavo Braz Lage, diretor de crédito do BB. Os resultados, afirma, ficam claros neste início de ano, quando o banco avançou mais mais rápido que os concorrentes e ganhou participação de mercado. A carteira de crédito do sistema bancário como um todo cresceu 11,6% de janeiro a maio, enquanto o BB avança com mais força, com 18,7%. A inadimplência total no crédito livre continua estável em 4,2%, inclusive nos empréstimos a pessoas físicas, com 5,8%, em um período em que o sistema bancário registra uma ligeira deterioração nas carteiras.

A meta de R$ 200 bilhões em operações de crédito foi estabelecida em meados do ano passado, dentro do estratégia de comemoração do aniversário de 200 anos do BB, que ocorre em 12 de outubro. Nos números conhecidos até agora, colheu-se apenas parcialmente os resultados da estratégia agressiva de expansão no mercado de funcionalismo público, com a conquista da folha de pagamentos de Minas Gerais, bahia e Maranhão.