Título: MA lidera trabalho escravo
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2011, Brasil, p. 10

A promessa era trabalhar em uma obra em São Paulo e a esperança, conquistar um emprego melhor. Vinte e seis trabalhadores saíram do Maranhão em um ônibus clandestino e, quando chegaram a Campinas, foram recebidos por condições de trabalho análogas à escravidão: falta de higiene, só um banheiro, ausência de cama ou colchão para todos e uma refeição diária. Os trabalhadores foram encontrados na noite da última terça-feira pela Polícia Federal (PF), após uma denúncia anônima.

Um resgate que ressalta uma posição que o Maranhão conquistou nos últimos seis anos: estado com a maior incidência de trabalho escravo contemporâneo e a principal rota de tráfico de pessoas no país (veja ranking). De 2005 a 2010, 3.920 trabalhadores resgatados pelas ações do grupo móvel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do Ministério Público do Trabalho (MPT) tinham o Maranhão como estado de origem. Para a coordenadora nacional de erradicação do trabalho escravo do MPT, Débora Tito, a explicação da pior posição é a ausência de políticas públicas. ¿No Maranhão, a omissão de políticas públicas é evidente. Mais próximo da capital, o trabalho escravo diminui. Mas, se andamos pelas estradas vicinais do estado, percebemos as más condições, o isolamento das cidades e a fuga em busca de melhores condições¿, denuncia.

Entre 2005 e 2009, 17.456 trabalhadores foram resgatados de trabalhos degradantes. Para diminuir o número de trabalhadores em situação de vulnerabilidade e evitar até mesmo a reincidência ¿ subdimensionada em 1,37% ¿, o MTE prepara o início do Programa Nacional Resgatando a Cidadania. Lançada ontem, a iniciativa começará em 19 de abril, no Maranhão, e será estendida a todos os estados até o fim do ano. O objetivo do programa é qualificar trabalhadores explorados e recolocá-los no mercado de trabalho. ¿O Estado usa mal o dinheiro, pois todos os resgatados recebem seguro-desemprego por três meses, mas depois podem retornar ao trabalho escravo¿, afirma o procurador-geral do Trabalho, Otávio Brito Lopes.