Título: Fé nos balanços
Autor: Cotias , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2008, EU & Investimentos, p. D1

Apesar de o mercado acionário ter iniciado o novo semestre com o pé esquerdo - com queda de 2,5% do Ibovespa ontem -, a cena para julho é de recuperação moderada, segundo os participantes da Carteira Valor. Depois de um junho de extrema aversão a risco, com saída maciça do capital estrangeiro, é a safra de balanços que começará a ser divulgada na segunda quinzena do mês que tende a dar um norte para alguns papéis. O ambiente internacional seguirá com sinais contraditórios, a volatilidade estará na ordem do dia, mas se houver espaço para um olhar mais acurado nos fundamentos das companhias, serão essas histórias que vão vingar.

Na lista de eleitas para para julho, foi esse tipo de análise que predominou. Na seleção aparece um mix de ações ligadas a commodities, com papéis expostos ao mercado interno e apostas mais defensivas num ambiente de repique inflacionário. As ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras aparecem como líderes incontestes, com 7 indicações, seguidas por Vale PNA e Banco do Brasil ON (ordinária com voto), com 4. As units (recibos de ações) da ALL e as preferenciais do Bradesco têm 3 recomendações, enquanto. Cia Siderúrgica Nacional (CSN) ON, Itaúsa PN, Cemig PN e Aracruz PNB empatam com 2 votos cada.

No mês passado, a Carteira Valor perdeu 9,9%, um pouco menos do que o Ibovespa, que recuou 10,4%. No ano, o portfólio acumula desvalorização de 2%, em comparação aos ganhos de 1,8% do índice. A novidade para julho é o ingresso da SLW Corretora, em substituição à corretora do Banco Real, que após ser adquirido pelo Santander passou a contratar os serviços de análise do novo controlador.

Num quadro internacional de taxas de juros crescentes e com o freio americano acendendo o alerta da estagflação, só mesmo os resultados das empresas para dar impulso de curto prazo a alguns papéis, pondera o estrategista da Unibanco Corretora, Marcelo Lima. "A economia brasileira segue descolada, cresceu 5% no primeiro trimestre e o ritmo da atividade é que deve se refletir no desempenho das empresas." A reação, ressalva, não deve conduzir o Ibovespa de volta aos 74 mil pontos do pós-grau de investimentos num único tiro, mas um retorno à casa dos 67 mil pontos já seria bem razoável.

No rol de ações que podem fazer a diferença, a Unibanco elegeu as ordinárias da Dasa e da Localiza. "Os resultados serão bons e podem mexer com os papéis, que estão bastante descontados, com múltiplos baixos e têm alto potencial de valorização", diz Lima. Outra inclusão foi Copel PNB, uma opção defensiva pelo reajuste de tarifas com base no Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) e pela venda de energia no mercado livre em condições satisfatórias. Conforme estima, os contratos devem ser fechado a R$ 130,00 ou R$ 140,00 o megawatt/hora, em comparação a R$ 70,00 de três anos atrás.

Com a expectativa de que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) atenda à demanda das empresas do setor para reajustar as tarifas a contento, Transmissão Paulista PN também aparece como boa oportunidade, segundo o chefe de análise da Planner Corretora, Ricardo Tadeu Martins. "Embora já se aponte alguma desaceleração no ritmo da atividade nacional, os reajustes pelo IGP-M vão contribuir para que a empresa mantenha o equilíbrio financeiro, apresentando resultados satisfatórios", afirma. O fato de ter uma estrutura enxuta, sem grandes endividamentos e por ter participado com empenho nos leilões de linhas de transmissão no Norte e Nordeste também referendam o investimento, acrescenta o especialista.

Num período de estresse generalizado, o setor elétrico tende a sofrer menos do que o mercado, assinala Pedro Galdi, da SLW Corretora. Na estréia da casa na Carteira Valor, Eletrobrás ON foi uma das ações selecionadas com base nesse raciocínio. "Os preços vão ser reajustados nas fórmulas de contrato e não há qualquer indicação de queda de demanda", diz. As queridinhas Petrobras e Vale também integram a lista. A manutenção dos preços do petróleo na estratosfera e a exploração em águas profundas justificam a aposta na estatal. A mineradora, por sua vez, às vésperas de divulgar o balanço (no dia 25) deve apresentar resultados fortes no segundo trimestre, incorporando integralmente o reajuste nos preços do minério de ferro e das pelotas.