Título: Emissões crescem 50% e chegam a R$ 74,6 bi no primeiro semestre
Autor: Vieira , Catherine
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2008, Finanças, p. C1

As emissões das companhias de leasing, que somaram cerca de R$ 31 bilhões no primeiro semestre, ajudaram a manter em alta o volume total de ofertas registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que alcançaram R$ 74,6 bilhões entre janeiro e junho. Com isso, mesmo com os lançamentos de ações em baixa, o volume total captado no mercado foi cerca de 50% superior ao do mesmo período do ano passado.

É fato que em 2007, o segundo semestre concentrou os grandes valores e o ano acabou registrando um total recorde de R$ 167 bilhões. Porém, pelos dados das ofertas que já estão em análise, este ano também poderá registrar bons números. Já há R$ 34 bilhões em ofertas aguardando aprovação da CVM, valor que também conta com a ajuda de uma grande operação de leasing. Mas esse volume em análise não contabiliza as ofertas de ações, que só informam o valor total depois de aprovadas. Somente a operação da Vale pode movimentar US$ 14 bilhões.

A grande diferença das captações de recursos este ano está no perfil das ofertas. Se em 2007, as ações foram as grandes protagonistas, este ano os volumes são sustentados pelas operações de renda fixa, como as debêntures, que lideram, com R$ 33 bilhões, e as notas promissórias, que já alcançam quase R$ 10 bilhões. Descontadas as operações de leasing, o movimento das debêntures seria semelhante ao do primeiro semestre de 2007, porém as notas promissórias aumentaram significativamente.

Na avaliação do analista André Schibuola, da Precision Asset Management, gestora especializada em renda fixa, as empresas estão precisando de recursos, por conta da expansão do país e de novos projetos, e continuam indo a mercado. "Mas só consegue captar quem pagar retorno maior", diz ele. Comenta-se que a B2W, dona dos sites Submarino e Americanas.com, está oferecendo debêntures com remuneração de 120% do Certificado de Depósito Bancário (CDI), retorno considerado atrativo pelo mercado.

"O movimento do investidor fugindo do risco continua", afirma Luiz Fernando Romano, diretor da Brascan Gestão de Ativos. Por isso, o fraco desempenho das ações e a preferência pelos Certificados de Depósitos Bancários (CDB), emitidos por bancos e que estão pagando cerca de 105% do CDI.

A superintendente de registros em exercício da CVM, Flavia Mouta, observa que, em função de uma retração específica nos lançamentos de ações, que foram muito comentados, muitos pensam que o movimento como um todo do mercado recrudesceu. "Isso não é verdade, de fato aquela quantidade de IPOs que houve em 2007 não vai se repetir, mas outros tipos de ofertas, como CRIs, FIPs e FIDCs estão operando a pleno vapor", diz. Ela acrescenta ainda que apesar de um movimento forte de ofertas de leasing em janeiro e fevereiro, as companhias também estão acessando o mercado. "Houve a emissão da Gafisa e da Klabin Segall, recentemente", lembra.

De acordo com Flavia, de fato esse ano não deve ter um movimento como o de 2007 nas ofertas de ações, porém não há sinais de que desaquecimento nos demais segmentos. "Pelo contrário, temos recebido constantemente contatos de intermediários que querem tirar dúvidas e que dizem estar com uma série de operações para dar entrada", diz. A busca maior por instrumentos de dívida era um movimento esperado pelos especialistas, uma vez que, depois de uma rodada forte de obtenção de recursos por meio de emissões de ações em 2006 e 2007, que representam capital próprio, seria natural que as companhias buscassem agora recursos por meio de dívidas, para ter uma estrutura de capital mais equilibrada.

Outro destaque do semestre está nos volumes registrados de Fundos de Investimentos em Participações (FIPs), que tiveram um crescimento de mais de 40%. Os FIPs têm sido cada vez mais procurados e acabam sendo beneficiados em períodos nos quais o mercado de ações não está tão propício a captações. Isso porque algumas empresas acabam buscando um private equity em vez de captar por meio de ações. Sem a concorrência dos IPOs, os projetos também acabam ficando com preços mais acessíveis para os FIPs.

Para Fabio Solferini, presidente do Standard Bank, as operações alavancadas, que juntam recursos dos fundos de private equity com crédito bancário, vão voltar, ainda que de forma mais seletiva, e animar esse mercado no segundo semestre. "O Brasil está com um ambiente muito favorável para novos negócios."

As notas promissórias foram outro instrumento que se recuperaram e cresceram 260%. Atraíram empresas do porte de AmBev, Votorantim Finanças e agora a operadora de telefonia Vivo, que vai lançar R$ 500 milhões. Segundo Luis Fernando Resende, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), as notas, que permitem captação de curto prazo (entre 180 e 360 dias), têm um comportamento ciclotímico. Vão e voltam conforme as condições do mercado. Muitas empresas, diz ele, usam esses papéis para captações de emergência, enquanto preparam um lançamento mais complexo, como o de uma debêntures, por exemplo.