Título: Medo de uma nova recessão
Autor: Hessel, Rosana; Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2011, Economia, p. 11

Os mercados internacionais continuaram repercutindo ontem o medo de que os tumultos nos países árabes interrompam a incipiente retomada da economia global. As altas recordes nas cotações do petróleo ampliaram as incertezas, especialmente sobre Europa e Estados Unidos, altamente fragilizados por problemas fiscais e ameaças inflacionárias.

As principais bolsas do mundo registram o quarto dia de perdas. No Brasil, as ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras recuaram 1,82% e as preferenciais, 1,18%. A pressão foi reduzida no fim do pregão, deixando para trás os picos recordes desde agosto de 2008. Outras nações produtoras foram indicadas para compensar perdas de produção registradas na Líbia. Os investidores esperam resposta da Arábia Saudita, principal produtora na Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep). Os sauditas já conversam com refinadores europeus.

Para tentar administrar expectativas negativas, a Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou que, até agora, apenas 750 mil barris diários ¿ menos de 1% do consumo global ¿ foram tirados do mercado em razão da crise. Um dia antes, porém, o próprio organismo afirmou que as altas do petróleo ameaçavam a recuperação de economias desenvolvidas e emergentes. A AIE tem 1,6 bilhão de barris de reservas petrolíferas de emergência à disposição para momentos de crise.

Cenário A Casa Branca também reforçou a ponderação, anunciando ter capacidade para agir em caso de uma grande interrupção no abastecimento de petróleo provocada pelos confrontos no Oriente Médio. Os estoques de petróleo nos EUA subiram 822 mil barris semana passada, para 346,74 milhões de unidades.

Aliada à queda na oferta do produto, devido a uma perpetuação da suspensão da produção da Líbia, a alta nos preços poderá desencadear nova crise, analisou o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Helder Queiroz. Já para o analista político do Ibmec-DF Creomar Lima Carvalho de Souza uma crise econômica será provável se o petróleo continuar a subir. ¿A Líbia responde por 15% da demanda de petróleo da Europa. Se a energia ficar cara, a economia vai reagir mal¿, avaliou. (RH e SR)

Kadafi faz ameaça Importantes terminais petrolíferos da Líbia localizados a leste de Trípoli estão sob o controle de rebeldes contrários ao presidente Muamar Kadafi, disseram moradores de Benghazi que conseguiram fazer contato com pessoas na região. O ditador líbio disse que essa ocupação reduzirá a oferta de petróleo no mundo. Por ora, os volumes exportados pelo país permanecem próximos da normalidade.